Título: Lula faz mea-culpa por ataques à Norte-Sul
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O País, p. 11
'É muito fácil fazer críticas sentado numa sala com ar-refrigerado', afirma o presidente, neste caso atacando a oposição
AGUIARNÓPOLIS (TO). Em mais um ato típico de campanha, ao visitar ontem obras da Ferrovia Norte-Sul, em Tocantins, perto da divisa com o Maranhão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duros ataques à oposição e também um mea-culpa público sobre as críticas que fizera ao projeto e ao governo do ex-presidente José Sarney, que estava no palanque.
- A gente dizia textualmente que a Ferrovia Norte Sul era uma ferrovia - naquele tempo não tinha a palavra virtual - era uma ferrovia que ligava nada a nada. Somente depois que eu comecei a andar pelo Brasil, a conhecer a profundidade das diferenças do país, me dei conta de quantas vezes cometemos injustiças contra pessoas, dizemos que não gostamos de pessoas sem conhecer as pessoas, dizemos que somos contra alguma coisa sem saber por que somos contra - admitiu Lula.
E emendou:
- Hoje estou aqui porque, depois de percorrer 91 mil quilômetros neste país e de ganhar as eleições para presidente da República, disse ao presidente Sarney: vamos retomar a Ferrovia Norte-Sul porque ela é extremamente importante para o processo de integração das riquezas deste país, para o processo de escoamento da produção da nossa riqueza e, sobretudo, ela é extremamente importante para desenvolver o Centro-Oeste brasileiro.
Sarney retribuiu com elogios a Lula:
- O ex-presidente vem louvar o presidente atual para dizer o grande administrador que ele é e a maneira com a qual ele vem conduzindo a Presidência. Ele é um dos mais populares presidentes da História do Brasil. Quero dizer da minha fé no futuro e no presidente Lula. Ele terá minha solidariedade sempre que necessitar.
Lula lembrou das críticas que fez, em 1987, ao projeto da ferrovia:
- Meu querido presidente Sarney, quando eu te convidei para vir aqui é porque de vez em quando este país precisa ter humildade e fazer justiça às pessoas. Foi um gesto de reconhecimento a um homem que governou este país na dificuldade que governou. (...) E comeu o pão que o diabo amassou. Sarney, nunca o ofendi, nunca lhe fiz uma provocação com uma palavra que não pudesse dizer publicamente. E eu sei o quanto este homem foi ofendido, sei como ele foi atacado - disse Lula, sendo abraçado pelo ex-presidente antes do fim do discurso.
O presidente fez duros ataques à oposição. Criticou políticos que, segundo ele, não conhecem o Brasil e não gostam de pobres.
- Neste país, tem um tipo de político que não gosta de pobre, que não respeita os trabalhadores e que acha que dar dinheiro para a pessoa comprar arroz e feijão para comer é assistencialismo. É assistencialismo para quem toma café de manhã, almoça e janta e ainda joga metade da comida fora, que sobrou.
Lula voltou a se comparar a Juscelino Kubitschek e disse que tem sido mais ofendido do que o ex-presidente. Depois, numa referência ao PSDB, disse que muitos políticos torcem contra seu governo sonhando em voltar ao poder. Acompanhado do senador José Sarney (PMDB-AP) e do governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), Lula andou de trem e ouviu gritos pela reeleição da platéia, que ganhou refeições do governo de Tocantins.
- Tem um tipo de político no Brasil que por mais experiência que tenha, por mais mandatos que tenha, está sempre torcendo para que as coisas não dêem certo no Brasil,para ver se voltam. É muito fácil fazer críticas sentado numa sala com ar-refrigerado - disse.