Título: CÂMARA DEVE ABSOLVER VADÃO GOMES HOJE
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O País, p. 13

Deputado será o 11º envolvido com mensalão a escapar da cassação

BRASÍLIA. O deputado Vadão Gomes (PP-SP) deverá ser o décimo-primeiro parlamentar acusado de envolvimento no esquema do mensalão a ser absolvido hoje pelo plenário da Câmara. O empresário Marcos Valério declarou ter repassado R$3,7 milhões em dinheiro vivo para Vadão, que já foi absolvido pelo Conselho de Ética. Mas para reforçar a defesa do colega, o deputado José Carlos Araújo (PL-BA), que integra o Conselho e votou a favor de Vadão, inovou e fez uma projeção de quantas malas de viagem ou maletas tipo executivo seriam necessárias para carregar todo esse dinheiro.

Utilizando o programa conhecido como Auto-Cad, usado para fazer cálculos de projetos de engenharia civil e arquitetura, Araújo levou em conta o tamanho da mala e os centímetros de cada maço de dinheiro. O resultado, na tentativa de mostrar que seria quase impossível carregar tanto dinheiro, foi o seguinte: seriam necessárias quatro malas de viagem de 70 x 35 x 16 centímetros, cada uma contendo 193 maços de R$5 mil, totalizando R$965 mil; se Valério tivesse usado uma maleta tipo executivo de 41 x 28 x 6 centímetros, com volume de 6.888 centímetros cúbicos, aí seriam necessárias 22 delas.

"O Valério não lembra sequer o nome do hotel"

José Carlos Araújo não se limitou a fazer o cálculo. Ele distribuiu aos colegas do conselho e a vários parlamentares os desenhos das malas e das maletas com os cálculos detalhados. Em seu depoimento na CPI dos Correios, Valério disse que deu o dinheiro para Vadão num hotel em São Paulo. O deputado nega ter estado na cidade na data revelada pelo responsável pelo mensalão.

Araújo afirmou que pretendia demonstrar não ser razoável uma pessoa sair carregando tanto dinheiro e queria demonstrar também que, se alguém o fizesse, teria muito trabalho para levar tamanha bagagem.

- O Valério disse que entregou pessoalmente o dinheiro ao Vadão, mas não lembra sequer o nome do hotel em São Paulo onde teria feito a entrega. O objetivo desse cálculo é demonstrar às pessoas o volume que esse tanto de dinheiro ocupa. Deveria, no mínimo, ter chamado um carro-forte - disse Araújo em defesa do amigo Vadão.

O empresário mineiro deu duas versões para o repasse do dinheiro a Vadão. Uma delas foi a das malas com o dinheiro. A outra, que ele contou em seu depoimento na Procuradoria Geral da República, foi a de que depositou R$1 milhão no dia 5 de julho de 2004 e R$2,7 milhões em 16 de agosto de 2004 na conta do frigorífico de propriedade de Vadão Gomes.