Título: GABRIELLI: PETROBRAS VOLTA A NEGOCIAR GÁS DA BOLÍVIA SEM TOCAR EM POLÍTICA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 24/05/2006, Economia, p. 26

Presidente da estatal minimiza diferenças entre seu discurso e o do governo

NOVA YORK. Longe dos refletores e o mais distante possível das questões políticas, a Petrobras e a estatal boliviana YPFB voltam amanhã à mesa de negociações para discutir o fornecimento de gás ao Brasil, informou ontem o presidente da companhia brasileira, José Sergio Gabrielli. Na reunião com investidores americanos para anunciar os resultados da empresa, ele voltou a dizer que usará de todos os meios legais para proteger os interesses comerciais da Petrobras, mas garantiu que não existe contradição entre a posição da companhia e a do governo na negociação com a Bolívia. Segundo ele, a diferença de tom nas declarações públicas espelha a diferença de papéis que políticos e técnicos têm a desempenhar neste momento.

- O governo brasileiro vai fazer uma discussão diplomática e política com o governo boliviano. A Petrobras e a YPFB vão fazer uma discussão técnica e empresarial. O governo brasileiro está tendo uma atitude correta de criar espaço para a negociação técnica - afirmou Gabrielli.

Executivo não acredita em interrupção do fornecimento

Depois de anunciar o ótimo desempenho da Petrobras no primeiro trimestre de 2006, Gabrielli disse que a empresa enfrentava um pequeno problema político com a Bolívia e ressaltou que a nacionalização do gás boliviano teria um impacto muito pequeno na companhia, de menos de 0,04% do lucro líquido do primeiro trimestre. Apesar disso, o presidente da Petrobras dedicou a maior parte da sua exposição à questão boliviana - tema da maioria das perguntas de investidores e jornalistas americanos.

- Petróleo e gás são negócios de risco. Nem os Estados Unidos têm uma regulamentação estável sobre petróleo: há dois dias a Câmara está discutindo a taxação das empresas petrolíferas. Infelizmente, a Suíça não produz petróleo - disse Gabrielli, no único momento em que não se mostrou irritado com as perguntas de jornalistas sobre a Bolívia.

Ele repetiu muitas vezes que a Petrobras está investindo para aumentar a independência brasileira na produção do gás e disse não prever interrupção ou redução nas importações de gás da Bolívia.

- Objetivamente, todas as operações de gás na Bolívia, de transporte e refino, estão sendo feitas sem nenhuma alteração. Não é racional a hipótese de a Bolívia não fornecer gás para o Brasil.

Gabrielli também informou que a Petrobras planeja dobrar a capacidade da sua refinaria em Pasadena, no estado do Texas, para 200 mil barris por dia. A empresa comprou 50% dessa refinaria no início deste ano, e agora ela está sendo reformada para atender aos novos padrões de poluição do ar para a gasolina dos EUA.

Logo após o encontro com investidores e jornalistas, Gabrielli assinou contratos com bancos para financiar a modernização da Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos.