Título: DÓLAR TEM TERCEIRA ALTA E ENCOSTA EM R$2,30
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 24/05/2006, Economia, p. 29

Moeda americana sobe 0,13% e fecha a R$2,292, após cair 1,66% durante o dia. Risco-Brasil avança 2,88%

O dólar subiu ontem pelo terceiro dia consecutivo e chegou perto dos R$2,30, após cair 1,66% na mínima do dia. Após três dias de fortes perdas nos mercados brasileiros, investidores aproveitaram a manhã para comprar ações mais barato e vender dólares a um valor mais alto. No entanto, o mercado acabou sucumbindo aos temores de uma aceleração no ritmo de alta dos juros americanos devido a maiores pressões inflacionárias e também à escalada, ontem, na cotação do petróleo e à nova queda nas bolsas americanas, que chegaram a subir mais de 1% durante o dia.

A moeda americana iniciou os negócios em forte queda, à medida que exportadores aproveitavam o patamar mais alto para vender dólares e, assim, lucrar mais na conversão para reais. Na mínima do dia, o dólar chegou a valer R$2,251, mas acabou fechando em alta de 0,13%, cotado a R$2,292. Segundo Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK, se a moeda voltar a encostar em R$2,30, exportadores devem vender mais dólares, a exemplo do que aconteceu ontem:

- Muitos aguardam o dólar mais alto para fechar operações, o que tende a fazer o dólar ceder nos próximos dias.

Temor de crescimento baixo e inflação alta nos EUA

O risco-Brasil atingiu 265 pontos centesimais pela manhã - uma queda de 4,33% em relação à véspera - mas não conseguiu sustentar a recuperação e, no fim do dia, marcava 285 pontos centesimais, uma alta de 2,88%. O Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, caiu 1,5%, para 121,45% do valor de face. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 1,06%, após subir quase 3%.

Investidores estão na expectativa da divulgação, nesta sexta-feira, do índice de gastos pessoais americano, que orienta as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Se a inflação vier mais alta, pode haver uma aceleração no ritmo de alta dos juros da maior economia do mundo, o que tende a reduzir aplicações em mercados emergentes.

- O mercado está cada vez mais preocupado com a possibilidade de uma estagflação nos Estados Unidos, que ocorre quando há baixo crescimento econômico e inflação alta. Se esse cenário se confirmar, todos os cálculos e apostas otimistas em relação aos mercados emergentes terão que ser refeitos, pois nada preparou o mercado para isso. E o movimento de ontem (anteontem) foi só um ensaio do que poderia ser a reação dos mercados a um cenário de estagflação - diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria.

Para ele, até a próxima reunião do Fed, no mês que vem, o mercado viverá numa gangorra, oscilando ao sabor de indicadores positivos ou negativos da economia americana.

- E, até lá, veremos várias oportunidades de compra de ativos brasileiros a curto prazo - afirma Lopes.

O banco UBS já percebeu a oportunidade e, num relatório publicado ontem, destaca que mantém o Brasil como sua "escolha número um na América Latina, com foco nas ações de empresas de primeira linha, que ficaram muito baratas (como Petrobras, Vale e AmBev)".