Título: BLINDAGEM PRÉ-ELEITORAL
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O Mundo, p. 33

Governo da Colômbia reforça segurança contra guerrilha em Bogotá para pleito presidencial

As autoridades descrevem o ambiente com um chavão: há, dizem elas, "uma tensa calma" na Colômbia às vésperas da eleição presidencial do próximo domingo. E tanto a calma quanto a tensão são aparentes na capital. A tranqüilidade está refletida na movimentação das pessoas cumprindo as suas tarefas cotidianas. A tensão é perceptível pela reforçada presença de policiais nas ruas, armados até os dentes.

O temor é claro: há suspeitas de que os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) realizarão atentados, embora o grupo venha incentivando - por meio de seu site na internet - os eleitores a votar. Uma coincidência perturba as autoridades: sábado será mais um aniversário da criação das Farc, e o grupo costuma comemorar a data com ataques.

O medo é reforçado pela recente descoberta de células urbanas das Farc em Bogotá:

- O risco é real. O objetivo é Bogotá. E, por isso, estamos em alerta máximo - disse o prefeito Luis Eduardo Garzón.

Além dos 16 mil homens sob o seu comando, o general Luis Alberto Gómez, comandante da Polícia Metropolitana de Bogotá, está contando com um reforço de mais quatro mil trazidos de outras cidades. A idéia é blindar a capital, segundo ele. Todas as entradas da cidade estão sendo controladas.

No aeroporto foi adotado um procedimento incomum: até mesmo os passageiros que desembarcam precisam passar por detectores de metais, e a sua bagagem também é examinada eletronicamente. Em alguns casos, policiais e soldados do Exército - que também estão postados na área - revistam as pessoas que estão chegando de outras cidades, e também de outros países. Policiais e militares também foram colocados à porta e em saguões dos principais hotéis da cidade.

Todo esse aparato faz parte do Plano Cadeado, que conta ainda com o apoio de 1.200 soldados do Exército destacados basicamente para patrulharem a periferia da capital. Um grupo de 600 agentes da brigada antiterrorismo vigia 14 pontos críticos da cidade.

Há uma preocupação especial com a zona sul, a mais pobre de Bogotá, e principalmente com o vizinho município de Soacha, naquela área. Os seus 400 mil moradores contam com apenas 160 policiais para protegê-los, trabalhando em três turnos. E a cidade é conhecida como um local de descanso de guerrilheiros das Farc.

Ali há também núcleos do grupo paramilitar Autodefesas Unidas de Colômbia (AUC), que embora venha negociando uma desmobilização com o governo é visto como uma ameaça à segurança das eleições de domingo. Segundo o setor de inteligência da polícia, haveria claros indícios de que as Farc poderiam realizar uma nova ofensiva com explosivos. Nos últimos quatro anos foram registrados 16 ataques na capital. O primeiro aconteceu em 7 de agosto de 2002, dia da posse do presidente Álvaro Uribe. No último dia 14, agentes do grupo antiterrorismo anunciaram terem frustrado um novo atentado das Farc, ao descobrirem explosivos, detonadores e panfletos subversivos numa pequena loja de celulares da capital. O material seria utilizado em ataques a estações e ônibus de transporte coletivo:

- O problema é que a guerrilha gosta de surpreender com atos terroristas - comentou o general Carlos Suárez, comandante da V Divisão do Exército, que também participa do esquema de segurança.

A população ficou mais apreensiva depois que um ex-guerrilheiro - atualmente colaborador do Exército e da polícia - disse numa entrevista não descartar a possibilidade de que esteja em Bogotá um dos chefes das Farc, Hernán Darío Velásquez, conhecido como Paisano. Segundo a mesma fonte, o guerrilheiro conhecido como Orlando Olhinhos, braço direito de Velásquez, também poderia estar na capital: a sua especialidade é justamente lidar com explosivos.

Numa prova da tensão que vive o país, dez policiais e um civil morreram na noite de anteontem, num enfrentamento entre uma patrulha da polícia e outra do Exército, numa área rural do município de Jamundí, no sudoeste do país. Soldados cometeram um erro ao abrirem fogo contra policiais de uma força de elite que faziam uma operação secreta contra o tráfico de drogas numa região onde é comum a presença de guerrilheiros das Farc. A procuradoria colombiana assumiu ontem a investigação do caso.