Título: Crise de nervos na oposição
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 2

Em casa que falta voto, falta paz, falta união. A queda do candidato Geraldo Alckmin na pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem levou o PSDB e o PFL ao pior dos jogos eleitorais, o da troca de acusações para além do chamado fogo amigo. Há também brigas entre os próprios tucanos e entre os próprios pefelistas.

A pesquisa não mostra Alckmin como um caso perdido nem Lula com reeleição garantida, como trataram de dizer os próprios petistas, em seu esforço para disfarçar o contentamento. Mas é isso mesmo que os números dizem. O candidato tucano, entretanto, depois de quase dois meses de intensa movimentação, perdeu dois pontos e viu a vantagem de Lula aumentar. Isso é que detonou as ansiedades represadas de um lado e de outro da aliança. A ansiedade costuma fazer muito mal aos candidatos que começam de baixo, induzindo-os a adotar comportamentos erráticos na busca de resultados rápidos para acalmar aliados.

- A disputa não está perdida mas esta histeria não nos ajuda. Estou trabalhando como bombeiro em todas as frentes - diz o pefelista José Carlos Aleluia, um dos poucos que não deu nem levou tiros ontem.

Tucanos e pefelistas estão cometendo ainda outro erro grave, o de fazer reparos, observações ou críticas através da imprensa. Cesar Maia, em seu ex-blog, chamou Tasso Jereissati de traidor porque estaria disposto a apoiar o irmão de Ciro Gomes, Cid, na disputa pelo governo do Ceará. Tasso reagiu atacando o filho do prefeito, o líder Rodrigo Maia, com uma brincadeira sobre "meu paipai, meu garoto", velho chiste de Chico Anísio. Mas foi o pefelista ACM que lhe deu esta inspiração. Na coluna de Claudio Humberto de ontem é ACM quem diz isso de Rodrigo, ao mesmo tempo que ataca o governador Cláudio Lembo. ACM e Tasso são unha e carne; não engoliram as queixas e ironias do governador paulista. Sem falar na escolha do senador José Jorge para vice de Alckmin, com o apoio de Jorge Bornhausen, da outra ala do PFL. Apoiadores do preterido José Agripino diziam ontem que a escolha teria levado à queda do candidato. Não houve nem tempo para esta informação produzir efeitos no eleitorado, diferentemente do levante do crime em São Paulo, que deve sim ter contribuído.

Rodrigo, dos mais atacados, era o mais contido.

- Lamento mas o PSDB conhece Cesar Maia e tem lhe dado motivos para reagir. Não está agindo como aliado no Rio.

Há dez dias, Cesar tentou reunir PFL, PSDB e PPS do estado em busca de um acordo: Eider Dantas, Eduardo Paes e Denise Frossard seguiriam candidatos ao governo até o final de junho. Nesta hora, fechariam todos com o que tivesse melhor desempenho nas pesquisas. Paes e os tucanos não compareceram. Ou seja, parte da briga vem das disputas estaduais.

Mas houve ainda o fogo amigo do deputado tucano Alberto Goldman em seu site, criticando FH, Aécio e Tasso por terem estado em Nova York na semana passada, enquanto Alckmin ralava por aqui. Como se eles o estivessem cristianizando. Não há, pelo menos por ora, sinal concreto disso.

Em resumo, estão tratando seus problemas pelos jornais e pela internet. Lavando roupa no chafariz. Assim não vai. Mas há outros problemas. Tucanos e pefelistas que evitam este jogo dizem reservadamente que querem ajudar na campanha mas não sabem sequer a quem procurar. Até agora parecem responder por ela apenas o próprio Alckmin e o coordenador, senador Sérgio Guerra. Falta montar o estado-maior e escolher subcomandantes.

A pedido de Lula, o PT acelera os entendimentos com o PSB e o PCdoB para o fechamento de uma coligação. Os problemas regionais estão pegando aí também.

Premiando as transfusões

O TSE surpreendeu positivamente ao adotar boa parte das regras eleitorais recentemente aprovadas pelo Congresso, contrariando a expectativa de que se apegaria ao fato de terem sido votadas fora do prazo legal. As mudanças estão longe do necessário mas devem coibir os gastos e com isso o recurso ao caixa dois.

Numa questão, porém, o TSE contraria até uma deliberação própria e fica com a pior das soluções.

Em 2003 o então secretário-geral do PSDB, deputado Bismarck Maia, consultou o tribunal sobre o cálculo do tempo de televisão. Deveria levar em conta o número de deputados eleitos por cada partido ou o tamanho da bancada que tomou posse? Sabe-se que entre a eleição e o início da legislatura ocorre uma debandada para o barco do governo. Aconteceu com os partidos aliados de Lula entre outubro de 2002 e a posse do Congresso, em fevereiro de 2003. O TSE disse que valia a bancada eleita. Agora, decide que vale a da posse. Bismarck vai questionar a decisão.

JUTAHY JÚNIOR, líder do PSDB, apelou a Aldo Rebelo, que pretendia transferir ao Ministério Público a investigação sobre os deputados envolvidos com a máfia das ambulâncias. As investigações correrão paralelas e em regime de colaboração. No final, Aldo promete mandar ao Conselho de Ética a lista dos deputados sobre os quais pesarem indícios claros. Difícil é achar apetite na Casa para punir seus pares. Ontem, Vadão Gomes foi absolvido.