Título: 'Houve alguns mal-entendidos'
Autor: Maria Lima/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 3

'O importante é que a aliança de PSDB e PFL é a única que está certa', diz Alckmin

Apesar de as pesquisas de intenção de voto apontarem a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB a presidente da República, se disse ontem satisfeito com os resultados que vem obtendo nas consultas populares e negou que uma crise interna esteja abalando a aliança do PSDB com o PFL. Em entrevista ao GLOBO ontem à noite, por telefone, Alckmin disse que as divergências entre os dois partidos que o apóiam não devem ser "maximizadas" e que elas acabarão logo que a campanha começar para valer na televisão.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), disse que o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, é traidor. O senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, critica Tasso e diz que tem gente falando demais. Esses ataques entre os partidos que o apóiam não estão prejudicando sua candidatura?

GERALDO ALCKMIN: Não há crise alguma entre PSDB e PFL. Estamos juntos há quatro anos na oposição ao PT no Congresso. Os dois partidos têm tido uma postura firme na oposição ao governo petista. Apesar de não ter tido aliança do PSDB com o PFL a nível nacional em 2002, eu fiz aliança com o PFL em São Paulo, tendo Cláudio Lembo como meu vice. O importante disso tudo é que a aliança do PSDB com o PFL é a única que já está certa. O senador José Jorge será meu vice. O que aconteceu é que houve alguns mal-entendidos entre algumas pessoas.

Mas o governador Cláudio Lembo tem reclamado da falta de lealdade, insinuando que faltou lealdade a tucanos...

ALCKMIN: Tenho prestado toda minha solidariedade ao doutor Lembo. Endosso tudo o que ele fez. Afinal, a equipe da segurança dele é a minha equipe, o doutor Saulo (Saulo Castro de Abreu Filho, secretário de Segurança) e o doutor Nagashi (Nagashi Furukawa, secretário de Assuntos Penitenciários).

Além do bate-boca entre o PFL e PSDB, tem também fogo amigo. O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se reuniu em Nova York com outros tucanos para discutir a sua candidatura...

ALCKMIN: Já estou acostumado. Em campanha é sempre assim. Não podemos dar muita bola. As pessoas expõem idéias, falam o que pensam, mesmo que eu ache que não deveriam falar, mas falam. O importante é termos aliança, programa partidário e colocar a campanha na rua. Ela só começa quando entra a campanha na TV.

Mas as pesquisas dão a vitória para Lula no primeiro turno. Como tirar essa vantagem?

ALCKMIN: A pesquisa Sensus mostra uma estabilidade no quadro. Ninguém subiu. As variações estão dentro da margem de erro. Lula tinha 42% em fevereiro, 38% em abril e 41% agora. Tá parado. Eu tinha 17% em fevereiro, passei para 20% em abril e agora estou com 18,7%. Ele com 40% e eu com 20%. Ele está no teto e eu estou com um piso, que é uma boa base para começar. Ele teve a máquina publicitária do governo e os programas do PT agora em abril. Os programas do PSDB só vão ao ar em junho. Mas no Datafolha eu estou crescendo dois pontos, de 20% para 22% e Lula está subindo de 40% para 45%. Ainda faltam cinco meses para as eleições.

Por que Lula está com tanta vantagem?

ALCKMIN: Lula está usando a máquina de forma descarada. Fala como presidente e fala como candidato. Estou satisfeito com o meu desempenho. A campanha vai começar depois de 15 de agosto e o eleitor vai poder avaliar os candidatos depois da parada de 7 de Setembro, aí sim o jogo vai começar. O mestre do futebol já falava que treino é treino e jogo é jogo. Agora é só treino.

Qual a carta na manga que o senhor tem para o começo da campanha na TV?

ALCKMIN: A verdade. Vou gerar emprego e o país vai crescer. Ele já teve sua oportunidade e o país não cresceu como deveria. E ainda lançou o país numa lambança ética sem precedentes e causou uma grande ineficiência de gestão. Já teve sua chance. Agora deve tirar o time de campo e deixar que outro time assuma o governo.

Mas a pesquisa Sensus diz que o senhor está com uma rejeição muito alta, maior do que a de Lula. Como mudar isso?

ALCKMIN: Isso está errado. Eles perguntaram aos eleitores se eu era culpado pela crise na segurança em São Paulo, mas não fizeram a mesma pergunta em relação a Lula. Tenho pesquisas que me dão uma rejeição baixa, de 7% no Rio Grande do Sul e 6% em Belo Horizonte. Não pode ser essa de 40% do Sensus. Acho que tenho menos culpa na crise de segurança do que o Lula.

O senhor não tem culpa pela crise?

ALCKMIN: No meu governo, fiz o que pude. Não temos mais o Carandiru, não temos presos em distritos policiais e temos 130 mil policiais nas ruas, com um orçamento de R$9 bilhões. Os índices de homicídios caíram no meu governo. O problema é que temos 22% da população brasileira e 44% da população carcerária do país. Colocamos muitos bandidos nas cadeias.