Título: Azeda o clima entre PSDB e PFL
Autor: Maria Lima/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 3

Pesquisas acirram a crise na aliança de Alckmin com ataques entre pefelistas e tucanos

A campanha do tucano Geraldo Alckmin entrou em crise ontem depois da divulgação de pesquisas mostrando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje venceria as eleições no primeiro turno, com um bate-boca público protagonizado pelos principais líderes e dirigentes de PSDB e PFL. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), expuseram a crise com trocas de insultos entre si. O que já era uma crise velada, desde a escolha do senador José Jorge (PFL-PE) para vice na chapa, virou lavagem de roupa suja com declarações desconcertantes dos dois lados.

Cesar Maia disparou contra Tasso, cujo maior aliado no PFL é o senador Antonio Carlos Magalhães. Em seu informe eletrônico, Cesar chamou Tasso de traidor e sugeriu que a candidatura tucana corre risco por causa da aliança histórica do presidente do PSDB com o ex-ministro Ciro Gomes, cotado para vice de Lula.

"A candidatura de Ciro Gomes a vice de Lula preocupa o PSDB e o PFL! Em 2002 o PSDB pediu Comissão de Ética para o senador Tasso Jereissati. Ontem - com o Ciro - como hoje - com o irmão do Ciro (Cid Gomes, candidato do PSB ao governo do Ceará) - o senador-presidente trai o PSDB nacional no Ceará", escreveu Cesar, indicando para um link com uma carta de Tasso, de 2002, na qual este explica ao PSDB suas relações com Ciro, então candidato a presidente da República pela coligação PPS-PTB-PDT, e seu distanciamento da candidatura de José Serra.

O temor dos pefelistas é que Tasso faça uma aliança informal para apoiar Ciro (por enquanto candidato a deputado) e a candidatura de seu irmão, Cid Gomes, ao governo do Ceará, contra a reeleição do governador Lúcio Alcântara, fazendo, assim, corpo mole no caso de Alckmin.

"Só vale se meu paipai confirmar", ironiza Tasso

O clima esquentou ainda mais durante o dia, sobretudo depois que Rodrigo Maia, na mesma linha do pai, disse que o problema da campanha de Alckmin era de coordenação, numa crítica direta ao presidente do PSDB.

- É uma crítica ao comportamento do Tasso em relação a nós. Não tem nada a ver com o candidato Geraldo Alckmin. Tudo o que se pede ao candidato, ele faz, o problema é o seu entorno - disse Rodrigo Maia.

O tucano cearense não gostou e a primeira reação foi de ironizar pai e filho, reproduzindo tratamento que é dispensado a ambos por Antonio Carlos Magalhães.

- O meu garoto falou e meu paipai repercutiu? Se meu paipai não confirmar, não vale o que meu garoto disser. Só vale se meu paipai confirmar - ironizou Tasso Jereissati.

Mas seu bom humor logo acabou. Em seguida o tucano disse que iria se reunir com o presidente do PFL para pedir a ele que controle seu partido. Disse que está na hora de se saber quem são, de fato, os aliados de Alckmin. Lembrando das críticas do governador paulista, o pefelista Cláudio Lembo, a tucanos, durante os ataques criminosos em São Paulo, Tasso disparou:

- Não dá mais para setores do PFL ficarem batendo no candidato e no PSDB. Não dá mais para ficar batendo no Fernando Henrique, no governador Aécio Neves. Agora é hora de saber se é aliado ou se não é? Chegou a hora de dar um basta e parar com essas brincadeiras.

Ao tomar conhecimento do texto de Cesar Maia, repetiu a ironia, dizendo que não faria comentários sobre o que escreveu o prefeito sem saber o que pensava o filho:

- O meu garoto repercutiu? Se não repercutiu, não vale.

Enquanto o tucano dava essas declarações na entrada do plenário do Senado, Bornhausen e Rodrigo Maia, que ocupavam uma das mesas da sala de cafezinho do Senado, já partiam para o contra-ataque.

- O Tasso Jereissati não está autorizado a fazer crítica ao PFL, restrinja-se ao PSDB - rebateu Bornhausen.

Não bastasse a guerra de tucanos com pefelistas, o ex-líder do PSDB na Câmara Alberto Goldman (SP) tratou de botar mais fogo no ninho tucano ao publicar, em sua página na internet, críticas a Tasso, a Fernando Henrique e a Aécio. Elogios só para o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e para Alckmin. Goldman afirma: "Um desabafo para quem, como eu, ficou esta semana em São Paulo e Brasília. Fernando Henrique, em Nova York, falando demais. Aécio Neves em Nova York com sua tradicional pinta de boa-vida. Tasso em Nova York fazendo pronunciamentos inconvenientes".

Com tanta confusão, Alckmin adiou para esta manhã sua ida a Brasília prevista para ontem. A oficialização da chapa Alckmin-José Jorge, que deveria ocorrer na segunda-feira em Recife, também foi adiada para quarta-feira em Brasília.

"Ontem - com o Ciro - como hoje - com o irmão do Ciro - o senador-presidente (Tasso) trai o PSDB nacional no Ceará"

CESAR MAIA , Prefeito do Rio (PFL)

"É uma crítica ao Tasso. Não tem nada a ver com Alckmin. Tudo que se pede ao candidato, ele faz, o problema é o entorno"

RODRIGO MAIA , Líder do PFL na Câmara

"Não dá mais para setores do PFL ficarem batendo no candidato e no PSDB. Chegou a hora de dar um basta e parar com estas brincadeiras"

TASSO JEREISSATI , Presidente do PSDB

"O senador Tasso Jereissati não está autorizado a fazer crítica ao PFL, restrinja-se ao PSDB"

JORGE BORNHAUSEN , Presidente do PFL