Título: Tucanos dizem que ainda dá tempo de virar jogo
Autor: Maria Lima/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 9

Presidente do PSDB diz que Lula usa máquina e faz 'lavagem cerebral'; petistas ficam eufóricos mas evitam salto alto

BRASÍLIA. Ainda há tempo e espaço para a disputa mudar de rumo. Apesar do susto com o aumento da rejeição do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, no Sensus - não confirmado no Datafolha - essa foi a leitura pública que os dirigentes tucanos fizeram ontem sobre as pesquisas de intenções de voto. O argumento é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em campanha permanente, com o uso da máquina, e que o jogo mudará quando os candidatos estiverem em situação de igualdade. Hoje, Alckmin e líderes de PSDB e PFL farão reunião em Brasília.

Os petistas, por seu lado, estão eufóricos com o desempenho de Lula, mas se esforçam para evitar o salto alto. Depois de receber em seu gabinete o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), admitiu que ficou arrasado quando viu os números, mas disse que depois de analisá-los mais friamente chegou à conclusão de que o presidente não é tão imbatível assim.

"Não é tão ruim assim", diz líder tucano

Virgílio considera que a rejeição a Alckmin, por exemplo, é mais fácil de mudar que a do presidente, carregada com a marca da discussão ética e da corrupção no governo e no PT.

- No primeiro momento fiquei arrasado. Depois vi que não era tão ruim assim. Esse patamar de rejeição ao Alckmin é muito bom e até promissor. É diferente da rejeição do Lula, que é mais pesada. O presidente não teve avaliação brilhante, estacionou nos 40% e não vai nem para a frente nem para trás. Não é uma vantagem que signifique o nocaute. Não é um adversário difícil de ser batido. Em cinco dias de campanha na TV podemos tirar já uns oito pontos de diferença - disse Virgílio.

O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), voltou a repetir que, apesar das pesquisas, não existe a menor possibilidade de o partido substituir seu candidato. Manteve o discurso de que o resultado não é ruim para Alckmin porque a campanha ainda não começou e disse que está havendo do outro lado uma "lavagem cerebral".

- O governo federal tem um volume muito grande de publicidade na TV. O presidente Lula está em campanha direta, inaugurando pedra fundamental, mas isso vai mudar quando o jogo ficar igual, a partir de julho, com o início da campanha e da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Neste momento está ocorrendo uma verdadeira lavagem cerebral.

O vice na chapa de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), também disse que a pesquisa mostra um quadro estável:

- O presidente Lula tem 40% e o presidente Alckmin cerca de 20%. Isso demonstra que a população não se ligou nas eleições ainda e indica o grau de conhecimento dos candidatos. Só com o desenrolar da campanha vamos nos aproximar do resultado do presidente Lula.

Ex-secretário do governo Alckmin em São Paulo, o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) também avaliou que há espaço para crescimento do tucano:

- Com toda a exposição na mídia, auto-suficiência da Petrobras, Vale do Rio Doce, programa do PT e os discursos diários de viagens, Lula continua estagnado nos 40%. Eu achava que ele viria estourando, com muito mais nessas pesquisas. O fato mais importante é que as pesquisas mostram que 60% do eleitorado estão procurando uma alternativa a Lula. Os resultados são alentadores.

- Esses resultados mostram um momento de popularidade do Lula, que deve estar fazendo uma campanha melhor do que vinha fazendo, e não uma queda do Alckmin. Enquanto não começarmos para valer, e Lula continuar fazendo campanha sozinho, usando a máquina da Presidência, só vai dar ele - disse Eduardo Paes (RJ), secretário-geral do PSDB.

Os petistas dizem que os resultados confirmam que a população está percebendo que o governo Lula é, comparando com o do PSDB, muito melhor.

- Os números mostram que Lula está tendo uma excelente aceitação. É lógico que é um resultado muito bom, mas não é um quadro fixado nem significa que a vitória está garantida - comentou Tarso Genro ao lado de Arthur Virgílio.

O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), disse que o resultado é extremamente positivo, mas foi cauteloso.

- Temos que receber essas pesquisas com humildade, prudência e redobrar o trabalho. Temos chances reais de resolver isso no primeiro turno, mas a eleição só se define em outubro - disse Fontana.

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"O presidente não teve uma avaliação brilhante, estacionou nos 40% e não vai para a frente nem para trás. Não é uma vantagem que signifique o nocaute. Não é adversário difícil de ser batido"

ARTHUR VIRGÍLIO , Líder do PSDB no Senado

"Os números mostram que Lula está tendo uma excelente aceitação. É um resultado muito bom, mas não é um quadro fixado nem significa que a vitória está garantida"

TARSO GENRO , Ministro das Relações Institucionais