Título: A CARAVANA DE CHÁVEZ
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 10

Brasileiros ganham cirurgias de graça na Venezuela

ABREU E LIMA, PE. Cidadão do município de Abreu e Lima desde dezembro de 2005, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, arranjou um jeito de retribuir a homenagem: depois de pagar em janeiro uma viagem de turismo de 60 pessoas a Caracas para quem deu bonecos dele mesmo, agora se prepara para receber mais 119 moradores da cidade. Desta vez, pela Misión Milagro Internacional, um programa humanitário que faz de graça cirurgias oftalmológicas para moradores pobres de países latino-americanos. Do Brasil só embarcarão moradores de Abreu e Lima, a 18 quilômetros da capital e onde Chávez já esteve duas vezes.

Ontem cerca de cem moradores foram à Polícia Federal no Aeroporto dos Guararapes para tirar os primeiros passaportes de suas vidas, mas saíram de mãos vazias, porque as fotografias que levaram não eram adequadas para o documento.

Hoje elas retornam à PF para tirar os passaportes, e na próxima segunda-feira viajam a Caracas em avião da Força Aérea da Venezuela para cirurgias de catarata e epterismo. Segundo o secretário de Saúde de Abreu e Lima, Ivanildo Carvalho Bezerra, 97 pessoas serão operadas. Elas foram cadastradas pelo Programa de Saúde de Família e submetidas a triagem por uma clínica especializada de Recife. Viajarão com o grupo enfermeiras e autoridades da cidade. Maria Nazaré Nunes da Costa, 69 anos, é uma delas:

- É Deus no céu e Chávez na terra. Rodo há dois anos e não consigo fazer cirurgia. Estou cansada de ver o mundo com uma névoa e uma mosquinha voando dentro do olho - diz a paraibana aposentada que sairá do país pela primeira vez.

Abreu e Lima tem cem mil habitantes e o único hospital público da cidade só trabalha com ortopedia. A Misión Milagro Internacional é fruto de uma parceria entre Cuba e Venezuela. Os dois países pretendem operar seis milhões de pessoas carentes nos próximos dez anos.

Ano passado, ao receber o título de cidadão, Chávez se emocionou ao ser homenageado pela diretora do Colégio Particular São José, Nélia Barros, e por seu irmão, Romildo Barros, diretor do Colégio Estadual Abreu e Lima. Os dois entregaram uma placa ao presidente e compararam Chávez a Simón Bolívar. Chávez, então, pediu ao embaixador venezuelano no Brasil, Julio Montoya, para convidar os dois irmãos e mais 58 pessoas para a viagem.

O boneco, quando acionado, faz um discurso com a voz de Chávez e é guardado com carinho por seus admiradores.