Título: CPI fecha cerco contra advogados de facção
Autor: Evandro Éboli/Alan Gripp
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 13

Comissão vai pedir que governo paulista envie lista dos que visitaram Marcola na prisão nos últimos anos

BRASÍLIA. A CPI do Tráfico de Armas decidiu fechar o cerco aos advogados ligados aos chefes da facção criminosa que comandou a onda de ataques em São Paulo. Ontem, a comissão aprovou requerimento determinando que a Secretaria de Administração Penitenciária daquele estado envie uma lista com os nomes dos advogados que visitaram nos últimos anos o chefe da organização, Marcos Camacho, o Marcola. A atuação deles será investigada e eles poderão ser convocados a depor.

Hoje, às 10h, a CPI fará uma acareação entre os advogados acusados de comprar por R$200 a gravação de uma sessão secreta da comissão e o ex-técnico de som da Câmara, que confessou tê-la vendido. Anteontem, Maria Cristina Rachado e Sérgio Wesley da Cunha negaram o pagamento de propina a Arthur Vinícius, mas não convenceram os deputados.

Pressionados pelos deputados, os dois confessaram que visitaram Marcola no dia 25 de janeiro deste ano. Foi preciso o deputado Alberto Fraga (PFL-DF) repetir três vezes a pergunta se ele havia estado com o chefe da facção criminosa para Sérgio admitir o encontro.

- Já (encontrou Marcola). Fui ver se Marcola estava bem. Qualquer advogado entra em presídio e fala com qualquer preso - disse o advogado.

Ele visitou Marcola em 25 de janeiro, data de aniversário do criminoso, que esteve, no mesmo dia, com sua advogada, Maria Cristina Rachado. Para a comissão, a revelação reforça a tese de que os dois atuam juntos na defesa do bandido. Sérgio passou todo o depoimento querendo se desvincular de Marcola e disse que conhecia Maria Cristina apenas de vista.

Deputados se irritam durante acareação

Parlamentares pedem prisão de advogados que trocaram acusações

BRASÍLIA.Durante a acareção, na noite de anteontem, os dois advogados discutiram e um acusou o outro de ter abordado o funcionário da CPI e o convencido a passar para eles cópias da gravação. Maria Cristina disse que alertou Sérgio e que teria dito a ele que isso seria "uma roubada". Sérgio retrucou:

- Se é roubada por que a senhora foi junto? - perguntou Sérgio. - A senhora está mentindo. Não a convenci. Como convencer alguém a entrar num táxi e ainda a pagar o serviço da cópia da fita?! - disse o advogado.

O comportamento dos advogados irritou o deputados, que disseram que eles deveriam estar presos.

Maria Cristina afirmou que Marcola nunca foi integrante da facção criminosa responsável pela onde da ataques em São Paulo e afirmou que isso era uma invenção da imprensa. Disse que o fato de advogar para ele trouxe problemas na sua vida pessoal e que seu marido, um delegado da Polícia Civil, dorme em cama separada.

- Ninguém provou que o Marcola é líder (da organização criminosa). Eu durmo em quarto separado do meu marido enquanto advogar para ele (Marcola) - revelou a advogada.

A CPI pode fazer novo pedido de prisão provisória dos dois à Justiça. Um primeiro já foi feito semana passada à Justiça Federal, que ainda não se pronunciou. Marcola será ouvido por deputados dia 6 ou 7 de junho, em São Paulo.