Título: VADÃO GOMES É O 11º MENSALEIRO ABSOLVIDO
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O País, p. 16

Com 243 votos favoráveis, Câmara arquiva o processo do deputado do PP; só Janene ainda não foi julgado

BRASÍLIA. Agora só falta o ex-líder do PP José Janene (PR) ser absolvido para o plenário da Câmara fechar o ciclo da impunidade dos deputados beneficiados com recursos do valerioduto. Como já era esperado, o deputado Vadão Gomes (PP-SP), penúltimo deputado processado no Conselho de Ética por envolvimento no mensalão, escapou ontem da cassação com 243 votos favoráveis ao arquivamento do processo, 161 votos contra, quatro em branco, 16 abstenções e um voto nulo.

Da lista de 19 deputados denunciados pela CPI dos Correios, Vadão é o 11º absolvido. No fim da apuração, depois de anunciar o arquivamento do caso, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), avisou ao plenário da instalação da comissão especial que vai analisar a emenda constitucional proposta pelo líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), que transfere para o Supremo Tribunal Federal os processos de cassação de parlamentares. À Câmara caberá a autorização para a abertura do processo.

Valério disse ter repassado R$3,7 milhões a Vadão

Mesmo com declarações de Marcos Valério de que repassou R$ 3,7 milhões em dinheiro vivo para Vadão, no Conselho de Ética foi derrotado inicialmente o relatório do deputado Moroni Torgan (PFL-CE) que pedia a cassação de Vadão.

Eduardo Valverde (PT-RO) foi então nomeado relator do voto vencido no Conselho, responsável por reunir num texto a opinião da maioria dos parlamentares. Valverde defendeu a inocência de Vadão e pediu o arquivamento, tendo seu parecer aprovado. Em depoimento na Procuradoria-Geral da República, Valério disse ter depositado na conta do frigorífico de Vadão R$1 milhão no dia 5 de julho de 2004, e outros R$2,7 milhões em 16 de agosto do mesmo ano.

- É mais fácil o Togo ser o campeão da Copa do Mundo do que cassar alguém aqui na Câmara - ironizou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Foi uma sessão protocolar, sem entusiasmo ou constrangimento. Vadão Gomes já tinha sido inocentado na votação do Conselho de Ética e o plenário já se acostumou a decisões favoráveis aos mensaleiros. O deputado do PP circulou tranqüilamente pelo plenário e nem gastou muito tempo em sua defesa. Da tribuna, em menos de cinco minutos, voltou a falar de sua origem humilde, e reclamou do que considerou acusações injustas sobre a sua participação no escândalo. O quórum também não foi alto. Apenas 425 dos 513 deputados votaram.

- Sempre acreditei no senso do justiça dos que me julgariam e tenho a certeza de que contarei neste plenário com a mesma isenção e senso de justiça. As conclusões do Conselho de Ética falam por si só - apelou Vadão em seu pronunciamento.

"Não podemos nos acovardar por causa da mídia"

Valverde, ao defender o arquivamento do processo de cassação, justificou que nada foi provado contra o acusado. Outros parlamentares, como Mussa Demes(PFL-PI), também foram à tribuna pedir o arquivamento do processo.

- Assumo a responsabilidade de remar contra a maré, ou seja, contra o consenso formado pela mídia, que vai dizer que foi absolvido mais um mensaleiro. Seria fácil aprovar um relatório no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e crucificar mais um deputado ao pedir sua cassação. Mas a minha responsabilidade foi relatar os fatos, e eles não levam à uma cassação de mandato. Não podemos nos acovardar em nossa ação política por causa da mídia - discursou Valverde.

O relator argumentou, em seu relatório, que Valério teria inicialmente afirmado que os recursos dados a Vadão foram repassados a empresas do deputado. Mas em outro momento apresentou outra versão, dizendo ter repassado o dinheiro a Vadão em um hotel em São Paulo, mas não pôde lembrar-se do nome do hotel.