Título: TESOURO VOLTARÁ A EMITIR TÍTULOS ATRELADOS À SELIC
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 25/05/2006, Economia, p. 27

BRASÍLIA. O Tesouro Nacional anunciou ontem que voltará a emitir em junho papéis da dívida pública atrelados à taxa básica de juros Selic (LFTs) - o que não ocorria em volume relevante desde dezembro. O motivo foi a alta volatilidade do mercado financeiro internacional dos últimos dias, decorrente do temor de aumento dos juros nos Estados Unidos. Os investidores estão rejeitando títulos brasileiros de mais longo prazo e de juros menores.

O secretário do Tesouro, Carlos Kawall, disse que a medida é tomada em um momento em que o cenário tende a ficar ainda "mais sombrio". As LFTs são considerados os piores títulos para as contas públicas, por serem mais imprevisíveis, caros e com prazos menores que os demais.

- Há estresse adicional a cada dia e as análises ainda são sombrias. Temos que ser parceiros de quem é nosso parceiro - disse Kawall, em referência à oferta ao mercado dos papéis que os investidores estão dispostos a comprar para financiar a dívida pública doméstica.

O governo decidiu melhorar o perfil do endividamento brasileiro e em 2006 reforçou a política de substituir as LFTs por títulos prefixados ou atrelados a índices de preços. A estratégia teve de ser abortada em maio devido à reação dos investidores externos, mais cautelosos com títulos das dívidas de países emergentes.

- Somos passageiros da incerteza, assim como os agentes financeiros globais - afirmou Kawall, lembrando que o Brasil sofre mais em momentos de turbulência que os demais países emergentes, já que os títulos brasileiros possuem mais liquidez que os demais.

No entanto, segundo Kawall, mesmo que daqui até o fim do ano sejam rolados os R$145 bilhões em dívida atrelados à Selic (ou seja, sejam emitidos papéis neste valor para pagar os que forem vencendo), o país terminará 2006 cumprindo as metas do Plano Anual de Financiamento (PAF), que prevê participação dos papéis pós-fixados entre 39% e 48% do total. Hoje, a participação está em 43% - percentual que se manteria caso ocorra a rolagem integral. Com emissões de R$90 bilhões, o percentual seria de 39% em dezembro. (Henrique Gomes Batista)