Título: PAZ, A NOVA ESTRATÉGIA DE URIBE
Autor: José Meirlles Passos
Fonte: O Globo, 25/05/2006, O Mundo, p. 34

Em busca da reeleição, presidente colombiano troca combate à guerrilha por negociação

Quatro anos atrás, Álvaro Uribe se elegeu presidente da Colômbia tendo como plataforma principal de sua campanha aniquilar dois grupos guerrilheiros: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). Agora, no entanto, o ponto principal de sua candidatura à reeleição é exatamente o oposto: a proposta de uma negociação de paz com a guerrilha.

O motivo é que o governo percebeu que é impossível resolver o problema à força. Além disso, os custos dessa guerra estão cada dia mais altos: as estimativas são de que o conflito armado está custando à Colômbia entre 3% e 7% do seu Produto Interno Bruto, ou seja, de US$3,4 bilhões a US$7,9 bilhões por ano.

Nem mesmo a ajuda de 800 militares dos EUA - tanto em treinamentos antiinsurgência quanto em logística - foi suficiente para derrotar os guerrilheiros. O chamado Plano Patriota, iniciado dois anos atrás com vários municípios do sul do país sendo ocupados por tropas do Exército, tem funcionado apenas razoavelmente.

A avaliação mais recente do Congresso dos EUA, ao considerar uma nova ajuda financeira à Colômbia, foi de que "ataques recentes das Farc indicam que os guerrilheiros continuam tendo grande capacidade ofensiva". Diante das duas opções que tinha, Uribe escolheu a segunda: a busca de diálogo. A primeira seria politicamente difícil de adotar: a participação direta de soldados americanos nas operações antiguerrilha.

Em março, a subsecretária de Estado Anne Patterson acenou com um reforço: disse que os EUA poderiam intervir no país para capturar guerrilheiros se a Colômbia pedisse. Uribe, no entanto, preferiu ouvir a voz dos colombianos: a mais recente pesquisa do Instituto Gallup mostrou que 64% preferem uma negociação entre o governo e a guerrilha ao confronto.

Distribuição de coletes à prova de bala a prefeitos

A questão é que as Farc - o grupo rebelde mais poderoso, com 17 mil homens - continuam mandando em pelo menos 38% do território colombiano. Seus guerrilheiros controlam totalmente 122 municípios, mantendo sob suas ordens - à custa de ameaças - seus prefeitos e 924 vereadores. A providência federal foi dar a todos eles coletes à prova de balas e armas para sua proteção pessoal.

Nos casos mais graves, o governo instituiu equipes de escoltas e forneceu carros blindados. Ainda assim, de vez em quando políticos se somam ao contingente de cerca de dois mil vereadores que se viram obrigados a se mudar para outras cidades com suas famílias. São forçados a administrar os assuntos de seus municípios reunindo-se em lugares secretos, ou via telefone, segundo a Federação Nacional de Vereadores.

Entre 2001 e 2006 foram assassinados 216 vereadores em dez municípios. No último dia 5, generais do Exército e da polícia, além de uma representante do Ministério do Interior, reuniram um "conselho extraordinário de segurança" em Neiva, em busca de soluções para esse problema. A decisão foi alertar os vereadores a não saírem das zonas de segurança (outras cidades) onde foram instalados.

Além disso, as Farc continuam fazendo do seqüestro uma arma - utilizada justamente no momento de se sentarem a uma mesa de negociação. No momento, 59 políticos, militares e policiais estão sob sua custódia, entre eles a senadora Ingrid Betancourt, seqüestrada em 2002 quando fazia campanha em Caquetá como candidata a presidente da República. O objetivo das Farc é, em meio às negociações de paz, realizar o que chamam de "intercâmbio humanitário": trocar o grupo de seqüestrados por 500 guerrilheiros mantidos em prisões federais.