Título: Fogo à vista
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 26/05/2006, O País, p. 2

As últimas pesquisas não abalaram em um átimo a disposição do candidato tucano Geraldo Alckmin. É o que ele assegurava ontem ao longo de uma tarde de conversas destinadas a acalmar os nervos dos aliados. "Preparei-me psicologicamente para atravessar a entressafra com desempenho de um dígito", dizia. Ao longo de junho e julho, entretanto, ele planeja reagir valendo-se dos programas de televisão do PSDB, do PFL e de outros partidos de oposição que vão abrir fogo contra Lula.

Um candidato de oposição, enfrentando um presidente no cargo que tira proveito disso para fazer campanha fora do prazo, precisa ter frieza para atravessar este período que antecede as convenções de junho e vai até o início da campanha televisiva em agosto, diz o candidato, aparentando a tranqüilidade que prega, apesar do estresse na coligação. Ontem ele almoçou com o senador Tasso Jereissati e seu coordenador de campanha, senador Sérgio Guerra. Acertaram a composição do conselho político da campanha. Reuniu-se com seu vice pefelista, José Jorge, que hoje reúne-se com o prefeito Cesar Maia, personagem mais citado nas conversas de ontem. Mais que as críticas do prefeito, incomoda muito o fato de ele apresentá-las publicamente, na sua página virtual ou de entrevistas, como voltou a fazer ontem.

A pesquisa Datafolha mostra que o levante do crime organizado em São Paulo atingiu muito mais Alckmin do que Lula. Mostra porém que estes danos ficaram circunscritos ao estado de São Paulo e mais concentrados na capital. No estado, a vantagem de Alckmin sobre Lula caiu três pontos percentuais. Na capital, 11 pontos. Alckmin concorda com a avaliação mas não se apavora:

- Sem dúvida, a crise nos prejudicou, mas isso é conjuntural. Com São Paulo, não tenho a mínima preocupação. Nossa posição ali é muito sólida. Depois, eu estou há muito tempo fora da televisão. Agora em junho é que terei uma janela, com o programa do PSDB.

Já não é Alckmin que diz, mas outras fontes da coligação, que a janela na verdade será uma casamata. Nas próximas semanas, Lula e o PT sofrerão uma blitzkrieg. No dia 29 irão ao ar os programas do PSDB em todos os estados. Os 20 minutos serão divididos entre a candidatura presidencial e as locais. Em 20 de junho será veiculado o programa nacional, que deve ser todo ocupado por Alckmin. Entre os dias 8 e 13 de junho, o PSDB terá direito a um bombardeio de inserções televisivas que totalizarão 25 minutos. As mensagens serão curtíssimas mas contundentes e intermitentes. Em 15 de junho vai ao ar o programa nacional do PFL. "Alckmin não poderá aparecer mas o programa terá minha linha", diz o presidente do partido, Jorge Bornhausen. Linha duríssima, completa. No dia 19, serão veiculados os programas regionais. O PPS também terá direito a dez minutos contra Lula no dia 29.

Já o PT, com o programa de ontem, esgotou suas oportunidades. Televisão agora só em agosto, no horário eleitoral.

Alckmin chamou a atenção para o fato de a pesquisa Datafolha ter ido a campo na terça-feira, dia seguinte à veiculação dos programas regionais petistas, o que pode ter tido algum peso no resultado.

Ontem ele mostrava uma pesquisa não registrada, circunscrita ao estado do Paraná. Ali, em respostas espontâneas, os indefinidos ainda são 64%.

- Há muito caminho pela frente. Em eleição não há vencedor nem derrotado de véspera.