Título: Baixa rejeição é o maior trunfo de Alckmin
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 26/05/2006, O País, p. 8

Datafolha mostra que tucano lidera em São Paulo e entre os eleitores que ganham mais; Cesar diz que Lula chegou ao teto

Apesar do favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evidenciado pela pesquisa Datafolha/TV Globo, com grandes chances de vitória no primeiro turno caso a eleição fosse hoje, os dados mostram que seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, tem campo fértil para trabalhar e crescer até outubro. A maior vantagem de Alckmin até agora, mostra o levantamento, é a baixa rejeição a seu nome em todo o eleitorado.

O tucano tenta montar palanques fortes em estados importantes, como São Paulo e Minas. No Nordeste, onde Lula é de longe o favorito, a estratégia foi a escolha de um companheiro de chapa de um dos principais estados da região, o senador José Jorge, do PFL de Pernambuco. Além disso, Alckmin conta com aliados importantes na Bahia e no Rio Grande do Norte.

Crítico da campanha de Alckmin e estudioso das pesquisas eleitorais, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), chamou de céu de brigadeiro o cenário para o tucano. Cesar considera que os 39% que avaliaram como ótimo ou bom o governo Lula no Datafolha - um índice historicamente alto - representam um teto para as intenções de voto no presidente. O dado, diz, mostra que há potencial de crescimento para o tucano.

Segundo o Datafolha, 27% não votariam em Lula de jeito nenhum, enquanto 14% descartariam Alckmin. O tucano se sai bem na região Sul: só um em cada dez eleitores não o escolheria em hipótese alguma. No Sudeste, a rejeição é de 12%, contra 27% de Lula. Já no Nordeste, onde o presidente tem 60% dos votos, a rejeição a Alckmin é de 18%; a Lula, de 16%. A região, a mais pobre, é beneficiária de ações sociais do governo petista, como o Bolsa Família. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, esses índices podem significar potencial de voto, mas também indiferença ou desconhecimento da candidatura.

Classe média está dividida

Em São Paulo, seu estado de origem e maior colégio eleitoral do país, Alckmin está 9 pontos à frente de Lula - 42% dos votos contra 33% do presidente. O índice já mostra o efeito da violência que atingiu o estado, com os ataques de uma facção criminosa. Em Minas, Lula tem maioria, mas o governador Aécio Neves é tucano e tem cerca de 70% dos voto para a reeleição.

- Vai ser um teste da capacidade de Aécio de transferir votos. Não é automático. Será preciso muito envolvimento na campanha - avalia Paulino.

Outro ponto de Alckmin é seu desempenho na classe média: tem 30% e Lula, 35%. Nas classes mais altas, o tucano ainda mantém a dianteira: passou de 41% em abril para 35% em maio. Lula saiu de 24% para 27%. Entre os de baixa renda, Lula lidera, especialmente na camada que vive com menos de dois salários-mínimos: tem 49% dos votos, contra 17% do adversário. Na faixa entre dois e cinco salários, Lula leva 44% dos votos e Alckmin, 24%.

- Em nenhuma outra eleição houve um contraste tão grande entre a população de renda mais baixa e a de alta renda - constata Paulino. - Alckmin precisa convencer o eleitor de baixa renda que vai melhorar os benefícios sociais.

O diretor do Datafolha desconfia do papel de formadora de opinião da classe média:

- O eleitor de baixa renda tem decidido o voto de maneira autônoma. É uma decorrência da cultura política.

A identificação do eleitor mais pobre com Lula, diz Paulino, recomenda cautela:

- É preciso calcular. O ataque frontal não costuma dar resultado.

Institutos explicam divergência

BRASÍLIA e SÃO PAULO.Os diretores dos institutos Datafolha e Sensus explicaram ontem que utilizam métodos diferentes para aferira rejeição aos candidatos. O diretor-presidente do Sensus, Ricardo Guedes, disse que o instituto opta por checar a rejeição de forma individual e não por lista.

Segundo a pesquisa CNT/Sensus, a rejeição ao tucano Geraldo Alckmin aumentou de 33,5% para 40,6%. Na pesquisa Datafolha,14% o rejeitam.

- As duas escalas não são comparáveis, são medidas diferentes - diz Guedes.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, disse que a forma como a pergunta é formulada justifica a diferença. No caso do Datafolha, ela é feita enquanto é apresentada uma cartela circular com os nomes dos pré-candidatos.

- Quando perguntamos em quem o eleitor não votaria de jeito nenhum, aí sim temos a rejeição real - diz Paulino.