Título: Secretaria entrega lista com 186 mortos em SP
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 26/05/2006, O País, p. 11

Envio da relação foi no limite do prazo de 72 horas determinado pelo MP; relatório tem cópias de laudos e boletins

SÃO PAULO. A Secretaria de Segurança Pública entregou ontem à noite - no limite do prazo de 72 horas determinado pelo Ministério Público Estadual - a lista com os nomes das 186 pessoas mortas a tiros em São Paulo nos ataques comandados pela maior facção criminosa do estado.

Nesse relatório constam cópias dos boletins de ocorrência e laudos preliminares dos peritos do Instituto de Criminalística de todos os 79 mortos suspeitos de participar da quadrilha chefiada por Marcos Camacho, o Marcola, assim como dos 31 nomes de bandidos mortos em confrontos com a polícia mas contabilizados como mortes fora do confronto entre policiais e bandidos da facção que age nos presídios.

O documento inclui ainda a situação em que morreram 42 agentes de segurança pública, entre policiais militares, civis, agentes penitenciários e guardas metropolitanos e mais quatro cidadãos comuns vítimas de tiroteio que se somariam à contabilidade do governo paulista. Além disso, a Secretaria de Segurança encaminhou informações sobre 18 presos mortos durante rebeliões em presídios e de 12 jovens assassinados em chacinas no período.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública disse que o prazo determinado pelo Ministério Público seria cumprido, mas até as 19h30m de ontem os assessores não tinham informação do local em que o relatório seria protocolado na sede do MP. O departamento de protocolo do Ministério Público fechou às 19h.

De manhã, o secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, garantiu que iria cumprir a ordem do Ministério Público Estadual. A lista, porém, chegou aos promotores às 20h20m.

- Vamos cumprir hoje (ontem) - disse ele, depois de reclamar da insistência da imprensa para receber os nomes mantidos em sigilo há uma semana. - Já falei, é a distância ou o cérebro? - disse ele, irritado, a um dos repórteres, embora não tivesse sido até aquele momento contundente em nenhuma das respostas.

Se a lista não tivesse sido entregue no prazo garantido pela Secretaria de Segurança - meia-noite de ontem - autoridades responsáveis por sua divulgação poderiam ser enquadradas pelo crime de "desobediência a funcionário público". Nesse caso, o Código Penal prevê detenção de 15 dias a seis meses.

Procurador-geral começa a checar documentos

Relação não teria nomes de 87 mortos no período dos confrontos

SÃO PAULO. O procurador-geral do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinho, que passou o dia ontem em Brasília, começa a analisar hoje a documentação fornecida pela polícia paulista, juntamente com quatro promotores destacados especialmente para investigar os crimes ocorridos entre os dias 12 e 19 deste mês. Nos documentos que foram encaminhados pelo secretário de Segurança não constariam os nomes de mais 87 pessoas mortas a tiros naquele período que deram entrada no IML oeste de São Paulo e outros dez institutos espalhados pela Região Metropolitana de São Paulo.

O Ministério Público Estadual terá ainda ao relatório produzido pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-SP) depois de um levantamento sobre a situação de 132 corpos que deram entrada no IML central da capital também no período dos atentados. No documento, peritos verificaram a localização e a média de tiros disparados.