Título: MAIS PROBLEMAS À VISTA NA BR-101
Autor: Paulo Roberto Araújo
Fonte: O Globo, 26/05/2006, Rio, p. 14

Com risco de desabar, elevado é proibido a carretas e ficará em meia pista em julho

O gargalo de um dos principais acessos do Rio vai ficar mais estreito - e, novamente, em pleno período de férias, como aconteceu no auge do verão passado, quando o estado precário da BR-101 deflagrou uma operação tapa-buraco, causando grandes congestionamentos. Desta vez, a precariedade é de um trecho de 360 metros da rodovia: o Elevado Roberto Silveira, que, segundo o Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (Dnit), corre risco iminente de desabar.

O elevado, no início da Rodovia Niterói-Manilha, vai passar por obras emergenciais nos próximos 180 dias. Já a partir da próxima segunda-feira, caminhões com mais de 30 toneladas serão proibidos de trafegar por ali, mesmo de madrugada. A interdição parcial das pistas está prevista para julho, quando, por ser férias escolares, aumenta o fluxo de veículos na estrada, principal acesso à Região dos Lagos, ao pólo petrolífero de Macaé e Campos e ao Nordeste. Normalmente pelo viaduto passam 80 mil veículos por dia, sendo três mil caminhões.

Durante uma inspeção, técnicos do Dnit constataram o comprometimento de toda a estrutura do elevado, construído em 1963, muito antes da Ponte Rio-Niterói, como via urbana para ligar Niterói a São Gonçalo. Os técnicos condenaram sete dos oito dentes gerber (estrutura de encaixe das vigas que alivia a tensão sobre os pilares).

Para agravar o quadro, boa parte da ferragem do elevado está oxidada e à mostra, e a falta de manutenção bloqueou o escoamento da água, que se acumulou e comprometeu os caixões (bases) de concreto que sustentam os pilares. Também foram encontradas muitas trincas na laje do elevado. Devido à urgência da obra, que vai custar R$3,8 milhões, empreiteiras contratadas pelo Dnit já estão trabalhando no escoramento do elevado, com uso de macacos hidráulicos.

Caminhões terão que mudar trajeto

Primeiros a serem prejudicados, os caminhoneiros terão que procurar outros caminhos nos próximos 180 dias. As alternativas são a engarrafada Alameda São Boaventura e a BR-493 (Magé-Manilha).

- Existe um risco de desabamento por causa da deterioração dos dentes gerber, por isso decidimos proibir a passagem das carretas. Não há risco para veículos de passeios e ônibus. Estamos nos antecipando para evitar um problema maior - explicou o coordenador do Dnit no Rio, o engenheiro Rodrigo Costa.

Desde que foi inaugurado, o elevado só passou por manutenção de estrutura há dez anos. Sob a construção, num terreno invadido, surgiu uma favela.

Técnicos do Dnit acreditam que os motoristas de veículos particulares vão sofrer os efeitos das obras em meados de julho, quando começam as obras nas pistas do elevado. O canteiro central, que sustenta os postes de iluminação, será retirado para abertura de uma pista reversível. O trânsito vai fluir em meia pista para a construção de um novo guarda-corpo (o atual é frágil e está parcialmente destruído), a substituição do asfalto por um mais resistente e a abertura de uma passagem para pedestres nas laterais.

Na sexta-feira, o Dnit começa a instalar as placas para desviar os veículos pesados da Avenida do Contorno. A melhor opção é a BR-493, mas ela não serve para os caminhões com destino a Niterói. Estes terão que usar a Alameda São Boaventura.

A secretária de Serviços Públicos de Niterói, Dayse Monassa, disse que os problemas de falta de manutenção não só no Elevado Roberto Silveira como em outros trechos da BR-101 vêm ocorrendo porque o Dnit aguarda o fim do processo de privatização da BR-101 Norte. Ela prevê problemas no trânsito de Niterói durante as obras porque a Alameda São Boaventura está saturada só com o tráfego local. O processo de licitação da BR-101 Norte está em análise no TCU.

Uma rodovia cheia de problemas: ponte até hoje não foi reconstruída e buracos foram tapados na marra

A falta de manutenção da BR-101 Norte, que liga o Rio ao Espírito Santo e ao Nordeste, já causou uma série de acidentes, levando a estrada a ser chamada de Rodovia da Morte. Em novembro do ano passado, um trecho de 71 quilômetros da estrada foi interditado por causa do desabamento de uma ponte, em Silva Jardim. Oito dias depois, uma ponte metálica montada pelo Exército foi aberta a veículos leves. Uma pista alternativa também foi aberta, 13 dias mais tarde.

No rastro do desabamento da ponte - que até hoje não foi reconstruída - aconteceu uma verdadeira "guerra do buraco" entre os governos federal e estadual, sobre o direito de fazer os reparos na pista. A governadora Rosinha Garotinho mandou o DER tapar as crateras da estrada federal. Já o governo federal, que há pelo menos sete anos não cuidava da conservação da BR-101 Norte, não queria permitir o trabalho. O caso foi parar na Justiça e o estado conseguiu uma liminar para continuar as obras.

O mau estado das estradas federais levou a União a anunciar uma operação tapa-buraco em vários pontos do país. Na BR-101, os reparos começaram em janeiro, em pleno período de férias. Os congestionamentos foram inevitáveis.

Foi justamente num trecho em obras, em São Gonçalo, que no último sábado Mauro Mota Chaves morreu ao derrapar com sua moto. A família da vítima disse que vai processar o Dnit porque não havia sinalização. Em março houve três acidentes, com três mortos, na altura de Campos. Num deles, dois caminhões e dois carros bateram na pista sentido Rio. Em outro, uma moto foi atingida por um carro.

"Existe um risco de desabamento por causa da deterioração, por isso decidimos proibir carretas. Não há risco para carros e ônibus. Estamos nos antecipando para evitar um problema maior"

RODRIGO COSTA

Coordenador do Dnit no Rio