Título: DÓLAR TEM QUEDA DE 4,41%, A MAIOR DESDE 2002
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 26/05/2006, Economia, p. 23

Exportadores vendem moeda, elevam oferta e cotação fecha a R$2,294. Bolsa sobe 4,96% e risco-Brasil cai 3,91%

Após acumular uma alta de mais de 16% em 11 dias e avançar 4,71% apenas anteontem - a maior alta desde setembro 2002 - o dólar cedeu ontem diante da forte venda de moeda por exportadores. A especulação dos dias anteriores também abriu espaço para que investidores lucrassem com a venda de dólares a um valor mais alto, embolsando assim mais reais, o que ajudou a derrubar as cotações. Com isso, o dólar fechou em queda de 4,41% ontem, cotado a R$2,294 para venda. Foi a maior queda percentual desde 2 de agosto de 2002 (-4,44%).

Desde o último dia 10, o receio de um aumento no ritmo de alta dos juros americanos vem afugentando investidores estrangeiros de mercados emergentes, como o Brasil. Ontem, no entanto, o crescimento da economia americana abaixo das expectativas serviu como desculpa para que os investidores pudessem comprar ações brasileiras - que haviam recuado, em média, 14,74% nos últimos 11 dias - a um valor mais baixo e vender dólares numa cotação mais alta.

PIB dos EUA cresceu 5,3% no primeiro trimestre

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em alta de 4,96%, a maior valorização diária desde 11 de maio de 2004 (5,3%). Depois de subir mais de 30% entre os dias 10 e 24 de maio, o risco-Brasil recuou 3,91% ontem, para 270 pontos centesimais. Já o Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, avançou 0,40%, cotado a 123% do valor de face.

A revisão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) dos Estados Unidos foi bem recebida no mercado financeiro. O crescimento no primeiro trimestre deste ano ficou em 5,3%, a maior expansão nos últimos dois anos e meio. Analistas, no entanto, esperavam expansão entre 5,7% e 5,8% no período.

- A verdade é que, apesar de toda a preocupação com os juros americanos, enquanto tivermos no Brasil juros elevados e um forte saldo comercial, a tendência do dólar deve continuar sendo de queda. Num mundo de taxas ainda baixas, o Brasil continuará atraindo capital, pois tem o maior juro real do planeta - afirma Marcos Forgione, gerente de câmbio da corretora Souza Barros.

Anteontem, uma operação de recompra de títulos atrelados à inflação (NTN-Bs) pelo Tesouro Nacional acabou gerando pressão sobre o câmbio. Os papéis estão concentrados nas mãos de estrangeiros, que queriam se desfazer dos títulos, mas não havia liquidez no mercado. Ao venderem ao governo, os investidores usaram os reais para comprar dólares e deixar o país. Ontem, a operação foi repetida - o Tesouro recomprou o equivalente a R$1,1 bilhão - mas, diante da forte oferta de moeda gerada pela venda de dólares por exportadores, não chegou a pressionar o câmbio.

Eduardo Velho, sócio e economista-chefe da Mandarim Gestão de Recursos, explica que o índice de gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês), que será divulgado hoje, definirá o rumo dos mercados. Se a inflação vier mais alta, reforçará a expectativa de uma nova elevação dos juros nos EUA.

Os mercados financeiros em todo o mundo enfrentaram uma forte correção nos preços dos ativos, especialmente os de países emergentes, porque, no último dia 10, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, indicou que os juros poderiam subir mais que os 5% ao ano atuais, devido a riscos inflacionários. Com juros mais altos nos Estados Unidos, investidores tendem a se desfazer de aplicações em emergentes, como o Brasil, considerados mais arriscados, para aplicar em papéis do Tesouro americano.

- No passado, o Fed interrompeu as altas nos juros antes de a inflação atingir o ponto mais alto, esperando para ver o efeito das altas anteriores sobre a economia. Isso aconteceu entre 1989 e 1990, 1994 e 1995 e 1999 e 2000. A questão é saber se agora acontecerá o mesmo ou se o novo presidente continuará subindo as taxas - diz Velho.

Segundo informou ontem a Associação de Operadores dos Mercados Emergentes, o volume de títulos de dívida de países emergentes atingiu o recorde de US$1,631 trilhão no primeiro trimestre de 2006, em um momento no qual os investidores ainda estavam em lua-de-mel com ativos de risco e alto rendimento. O volume subiu 15% frente ao mesmo período de 2005. O giro foi o maior desde o início da divulgação dessas pesquisas, em 1997.