Título: PRESIDENTE BRASILEIRO CUTUCA HUGO CHÁVEZ
Autor: Eliane Oliveira, Cristiane Jungblut e Monica Tavar
Fonte: O Globo, 26/05/2006, Economia, p. 24

Lula lembra quartelada e reafirma atitude compreensiva na crise do gás com a Bolívia

BRASÍLIA. Ao lado do colega francês, Jacques Chirac, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, mais uma vez, a reação diplomática e compreensiva do Brasil na crise do gás com a Bolívia. Lula disse que a onda de nacionalismo na América do Sul se deve à juventude da democracia na região, que há 20 anos ainda convivia com regimes autoritários, e aproveitou para alfinetar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez - um dos aliados do boliviano Evo Morales na briga com a Petrobras:

- Neste continente, presidente Chirac, há 20 anos, todos os países tinham grupos que acreditavam na luta armada como solução para os problemas da política. E o que aconteceu de 90 pra cá? Todos os grupos, com exceção das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), resolveram abandonar a luta armada e entrar na disputa democrática. É importante lembrar que até o presidente Chávez tentou, não conseguiu e, depois, ganhou as eleições pela via democrática.

Foi a primeira vez que Lula se referiu, diretamente, à frustrada quartelada chavista de 1992. Até então, o presidente sempre dizia que Chávez foi eleito democraticamente em 1998, sem lembrar a tentativa de golpe oito anos antes.

Lula voltou a dizer que optou pela diplomacia na questão do gás. Segundo ele, a negociação é mais simples do que parece: a Bolívia precisa vender o gás para o Brasil e o Brasil depende do gás boliviano, o que leva os países a terem um denominador comum, restando discutir o preço justo.

- Muita gente queria que eu fosse agressivo com a Bolívia. Lembro da campanha, em que minha candidatura era paz e amor. Em vez de ser truculento com a Bolívia, acreditei no poder da conversa, na capacidade do diálogo - disse Lula.

Chirac: Morales está sensível a argumento dos países

Ele ressaltou que a nacionalização do gás não foi idéia de Morales. Saiu de um referendo realizado por seu antecessor, Carlos Mesa.

Chirac, disse que esteve por duas vezes com Morales. Em sua opinião, ele está decidido a levar em consideração o que está em jogo, mas está também sensível aos argumentos do Brasil e de outros países com negócios na Bolívia, como França e Espanha:

- As conversas que tive com Morales me levaram a constatar que ele é um homem que tinha que devolver a honra a um povo machucado. (Cristiane Jungblut e Eliane Oliveira)