Título: CREDOR RETIRA AVIÃO DA VARIG DE HANGAR EM NY
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 26/05/2006, Economia, p. 25

Medida tomada por empresa de 'leasing' para pressionar companhia não afeta operação, pois aeronave estava parada

Em mais um dia pressionada pelos credores, a Varig foi alvo desta vez da empresa americana de leasing Bristol Associates, que representa um consórcio de bancos americanos. A Bristol tirou ontem um Boeing 777 que faz parte da frota da Varig do hangar da United Airlines, no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, onde o avião passava por manutenção, e colocou-o num hangar da American Airlines. Segundo fontes, a medida foi uma clara pressão à Varig, que está em atraso com o aluguel do avião há cerca de dois meses, o equivalente a uma dívida de US$1,8 milhão.

Os credores ainda não podem arrestar aviões da Varig porque uma liminar dada pelo juiz Robert Drain, de Nova York, protege a companhia aérea até o dia 31. Segundo a Varig, nenhum documento jurídico foi enviado à companhia até o início da noite de ontem, determinando a retomada do avião. A informação é de que as autoridades aeroportuárias de Nova York permitiram a mudança de hangar.

O avião está desde 9 de abril em manutenção de motores e configuração da parte interna. De acordo com a Varig, a ausência da aeronave na frota não compromete os vôos internacionais. Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pela reestruturação da Varig, afirmou que não houve arresto da aeronave. A Bristol foi procurada pelo GLOBO em Nova York, mas nenhum executivo foi encontrado.

Infraero envia denúncia contra a Varig

A Infraero deu entrada ontem, no Ministério Público Federal (MPF), na ação contra a diretoria da Varig por apropriação indébita das tarifas de embarque no valor de R$16,7 milhões. O valor não repassado pela companhia foi descontado dos passageiros em trechos domésticos e internacionais em abril. A estatal recorreu ao MPF porque se trata de uma ação penal, já que apropriação indébita é caracterizado como crime.

Já em relação às tarifas aeroportuárias (pouso, permanência e navegação aérea), a Infraero decidiu esperar até a realização do leilão de ativos da Varig para fazer a cobrança. Os valores superam R$134 milhões e estão atrasados desde setembro de 2005.

Na corrida contra o tempo, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse ontem que técnicos da agência reguladora, com os administradores judiciais da companhia, vão se dedicar durante todo o fim de semana a reunir dados para que seja possível adiantar o texto do edital de leilão da Varig, inicialmente previsto para acontecer no início de julho.

- A Anac vai se debruçar nisso durante o fim de semana. De nossa parte, serão os detalhes, as exigências técnicas e operacionais que devem ser cumpridas pelas empresas interessadas em assumir a Varig imediatamente após o leilão. Há uma extensa lista de exigências, entre elas que a empresa deve estar apta a oferecer manutenção aos aviões, entre outros itens - explicou Zuanazzi.

O presidente da Anac afirmou que há muitos interessados na companhia e, por causa disso, é preciso antecipar o processo para que estas empresas possam montar, a partir dos dados apresentados, a estrutura financeira necessária para participar do leilão. Para Zuanazzi, a antecipação do leilão poderá ajudar a reduzir a pressão dos credores.

- A Varig tem um fluxo de caixa em estresse e sempre haverá um credor insatisfeito. Por isso, temos que trabalhar para antecipar o leilão. Depois que o documento estiver pronto, caberá à Justiça decidir a data da publicação do edital - comentou.

COLABOROU Geralda Doca