Título: ATAQUES PROVOCAM ONDA DE DISCURSOS RADICAIS
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 28/05/2006, O País, p. 12

Candidatos e entidades que criticam direitos humanos e pregam confronto com criminosos tentam ganhar espaço

SÃO PAULO. Os ataques de criminosos contra a polícia paulista e a disseminação do medo na população reativaram nos políticos e entidades conservadoras o discurso do ¿hay que endurecer¿. Candidatos que têm nas questões da segurança o principal mote de campanha aproveitaram a onda de violência para falar alto. Cerca de 30 policiais militares devem concorrer à Assembléia Legislativa e outros dez à Câmara dos Deputados, estimou o major Sérgio Olímpio Gomes, diretor da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e um dos postulantes à Câmara.

Movimentos como a Frente Integralista Brasileira prepararam panfletos criticando a política de direitos humanos, e dois policiais apareceram na Assembléia Legislativa vestindo camisetas da Scuderie Detetive Le Cocq/Esquadrão da Morte.

Todos disseram que a política de segurança do Estado é fraca, que bandidos ¿têm muita moleza¿ e que é preciso ¿deixar a polícia trabalhar¿, sem esclarecer o que isso quer dizer.

Segundo cientistas políticos, nas eleições deste ano será sentido o impacto da onda de pânico que se abateu sobre São Paulo. Fernando Abrúcio, da PUC/SP, diz acreditar no surgimento de novos candidatos da ¿linha-dura¿, aproveitando o momento. Ele observou, porém, que o discurso radical nem sempre surte efeito na periferia, que sofre com a violência policial.

¿ Essas declarações mais duras têm mais efeito sobre a classe média baixa ¿ afirmou.

Para Eduardo Cesar Marques, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), a população está mais madura e já expressou seu descontentamento nas pesquisas eleitorais para o governo do estado e para a Presidência da República, entendendo que tanto o governo do estado quanto o governo federal têm responsabilidade na segurança pública.

Marques diz que os candidatos radicais já têm espaço próprio. A onda de atentados, afirma, provocou no paulista ¿uma conscientização da relação entre violência e questão social¿.

Alheios às análises sociológicas, os políticos engrossaram a voz. Durante a semana, o deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), governador do estado em 1992, quando a polícia matou 111 detentos no Presídio do Carandiru, pregou mais rigor durante a propaganda de seu partido na TV e no rádio.

¿ Os bandidos têm muita moleza e é preciso acabar com isso. ¿ diz Fleury. ¿ Estamos debatendo se houve excesso ou não da polícia quando devíamos apurar os excessos dos criminosos.

Deputados criticam política de segurança pública

Fleury chama de hipocrisia o fato de a Secretaria de Segurança Pública ter parado em 110 a contagem de mortos em confronto com a polícia.

¿ Já ultrapassou e muito os 111 do Carandiru, com a diferença de que, naquele episódio, só morreram os presos condenados, e agora inocentes foram assassinados ¿ diz Fleury.

O deputado estadual coronel Ubiratan (PTB), que comandou a tropa do massacre do Carandiru e foi absolvido, criticou o estado que, segundo ele, ¿foi frouxo na área de segurança¿.

¿ O bandido preso ou solto só respeita uma força maior que a dele ¿ afirma.

Colega de plenário e de farda de Ubiratan, o capitão Conte Lopes (PP), personagem do livro ¿Rota 66¿, do jornalista Caco Barcellos, diz que ¿é preciso deixar a polícia trabalhar¿.

¿ Antigamente, quando um policial era morto nós não íamos no enterro mas íamos buscar o bandido ¿ diz Lopes.