Título: REGRAS MAIS RÍGIDAS DEVEM BARATEAR CAMPANHAS
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 28/05/2006, O País, p. 14

Proibição de showmícios, distribuição de brindes e outdoors reduzirá gastos de candidatos em milhões de reais

BRASÍLIA. Efeitos especiais e cenas externas na propaganda eleitoral na televisão estão garantidos, mas a campanha de rua terá mais restrições este ano. Os candidatos terão que gastar mais sola de sapato, já que as novas regras dificultam o emprego de recursos visuais: o uso de outdoors, a distribuição de camisetas, bonés e brindes e os showmícios estão proibidos. A vantagem é que as campanhas deverão custar milhões de reais a menos nas eleições pós-mensalão.

Em 2004, dirigentes do PT declararam despesas de R$2 milhões com 40 showmícios. A dupla Zezé de Camargo e Luciano, que animou a maioria das campanhas de petistas, cobrou R$75 mil por show. Outro número revelador foi a conta do PT com a Coteminas, do vice-presidente José Alencar: R$12 milhões para a confecção de 2,75 milhões de camisetas em 2004.

O líder do PSB na Câmara, Alexandre Cardoso (RJ), fez cálculos, com base em dados oficiais e estimativas de ¿gastos não contabilizados¿, para ter uma referência de quanto custaram todas as campanhas do Brasil ¿ de presidente a deputado estadual, com milhares de candidatos em cena.

O deputado arrisca dizer que deve chegar a R$200 milhões, em todo país, as despesas com mais de cem mil pessoas envolvidas direta ou indiretamente no trabalho de divulgação visual da campanha: pessoas que usam as camisetas, balançam bandeiras, distribuem brindes e organizam comícios. Além da remuneração, há o custo de camisetas, alimentação e transporte com esse pessoal.

Cifras oficiais ocultam verdade

Embora não haja dados confiáveis ¿ e os oficiais não representam a realidade ¿ as estimativas de custo total das campanhas eleitorais no Brasil ultrapassam a casa das centenas de milhões de reais. Só para se ter uma idéia, os dois principais partidos que disputaram as eleições de 2002, PT e PSDB, declararam à Justiça Eleitoral gastos oficiais de quase R$70 milhões, apenas com as candidaturas a presidente.

Cardoso diz acreditar que, com as restrições impostas este ano, a redução de custos será significativa, mas a economia se dará no caixa dois.

¿ O valor declarado desta vez não deverá ser muito diferente do declarado nas campanhas passadas. Nas campanhas presidenciais, o valor declarado é de 35% do realmente gasto, o restante é caixa dois. A diminuição virá nos gastos não declarados. Mesmo na despesa com os programas de TV o declarado é bem menor do que o realmente pago ¿ diz Cardoso.

Considerando que as candidaturas com mais chance de vitória confeccionam cerca de três milhões de camisetas, somente o PT e o PSDB poderão economizar R$6 milhões. Outra economia importante, diz Cardoso, será com o fim dos outdoors. Segundo os levantamentos que fez, numa campanha presidencial os candidatos mais competitivos espalham pelo país de dois mil a três mil outdoors nos dois meses anteriores às eleições. Isso, segundo a estimativa do deputado, representa um gasto médio com outdoors de R$16 milhões para cada candidato a presidente.

A economia também será grande com o fim dos showmícios. Cada candidato a presidente faria entre 20 e 30 grandes shows, calcula Cardoso. Cada um deles custa de R$60 mil a R$80 mil. Se fossem feitos 20 grandes shows já seriam quase R$2 milhões só com o cachê dos artistas.