Título: INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR ENSAIA RETOMADA COM NOVOS INVESTIDORES
Autor: Luciana Rodrigues e Mariza Louven
Fonte: O Globo, 28/05/2006, Economia, p. 38

Mas apenas oito usinas estão em produção e ociosidade é de 40%

RIO e CAMPOS. A recente chegada de grupos empresariais como o JPessoa e Itamarati, embalados pelos altos preços do açúcar e do álcool no mercado internacional, deu um alento à indústria da cana-de-açúcar do Estado do Rio. A retomada começou, mas apenas oito das 23 usinas em operação nos anos 70 foram revitalizadas, ainda com cerca de 40% de ociosidade.

¿ O desafio é aumentar a produção para atender à demanda externa ¿ afirma Carlos Frederico de Menezes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, coordenador do ¿Diagnóstico da cadeia produtivas da cana-de-açúcar¿, concluído este mês.

A cana respondia por um quarto da agricultura fluminense há dez anos e, hoje, tem participação de 15%. Está concentrada no Norte Fluminense, com 10 mil produtores que garantiram 5,7 milhões de toneladas da planta na última safra.

Mas a produtividade no campo é baixa em relação à de estados como São Paulo e Paraná, porque não há recursos para mecanização. As usinas, em geral, estão sucateadas. Como a qualidade do açúcar deixa a desejar, apenas as usinas Santa Cruz, do grupo JPessoa, e a Sapucaia exportam.

Enquanto o setor não se moderniza, nada muda para os 15 mil trabalhadores que dependem diretamente da cana-de-açúcar. Com 68 anos, Inácio Paulo do Nascimento trabalha há mais de cinco décadas para a antiga Usina São José, hoje Coagro. Começou aos 13 anos na lavoura e, aos 19, foi para a usina. Seu pai era cortador de cana e, dos seus quatro filhos homens, três estão empregados em usinas da região.

¿ A vida hoje está melhorzinha, só um pouquinho ¿ diz.

Para o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, o maior nó para o setor é a logística. Mas o grupo EBX, do empresário Eike Batista, projeta um porto em São João da Barra, com investimento de US$150 milhões, para exportar minério e também açúcar e álcool.

O presidente do Sindicato Rural de Campos, José do Amaral Ribeiro Gomes, reclama ainda da irregularidade das chuvas, que causam alagamentos e secas. O professor da Rural diz que a antiga malha de drenagem, construída nos anos 50 e com trechos da época do Império, está obstruída. Se for modernizada, com investimento de R$150 milhões, pode irrigar 50 mil hectares e contribuir para dobrar a produção.

José Pessoa de Queiróz Bisneto, controlador de um dos maiores grupos do país, diz que a reativação da Usina Santa Cruz, em 2002, é apenas o começo. A idéia é reativar a Usina Quissamã, onde hoje há apenas plantação de cana.

O grupo Itamarati também chegou ao Rio este ano. Montou uma processadora de açúcar em Barra do Piraí e compra o produto da Coagro, de Campos. Mas seu diretor financeiro, Alexandre Elgarten, diz que o grupo busca oportunidades no estado, onde já fornece 6% do açúcar refinado consumido. Há ainda projetos da empresa Elcana e de um grupo de engenharia carioca. (M.L. e L.R.)