Título: Problemas sociais crescem junto com o PIB
Autor: Luciana Rodrigues e Mariza Louven
Fonte: O Globo, 28/05/2006, Economia, p. 38

Em Macaé, 16% dos domicílios estão em favelas. Em Campos, só 3,7% dos trabalhadores são do grupo mais rico

MACAÉ, CAMPOS e RIO. Engarrafamentos típicos de grandes capitais, favelas à espreita de bairros nobres, violência e prostituição. Os problemas sociais de Macaé se multiplicaram no ritmo da expansão de sua economia. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas) da cidade cresceu 131% em termos nominais desde 2000, mas 16,26% de seus domicílios estão em favelas. A população quase triplicou desde 1980 e hoje o município tem uma das maiores taxas de homicídio do país.

Nas ruas de Macaé, placas de lançamentos imobiliários de luxo, como o do hotel cinco estrelas Sheraton ¿ que será inaugurado em julho ¿ dividem as calçadas com pichações de facções criminosas. Estima-se que 10% da população sejam estrangeiros. Mas sua presença fez disparar os preços do aluguel e empurrou os moradores mais pobres para as favelas. Um apartamento de dois quartos num bairro nobre custa R$1.200 por mês.

¿ Gasto R$600 por mês com as compras. Fica puxado, porque tiro uns mil reais como pedreiro ¿ lamenta Mário Nunes de Paulo, que mora com a mulher e dois filhos na favela de Nova Esperança.

Cidade atraiu trabalhadores pouco qualificados

Lá, espera-se por tudo: água, rede de esgoto, calçamento.

¿ Em dia de chuva, as crianças caminham na lama que nem caranguejo ¿ reclama Eudes Marques Gomes, que saiu de Maceió para trabalhar como soldador em Macaé.

Presidente da Federação das Associações de Moradores, Edson Dias de Carvalho vê na dinâmica do petróleo a origem da favelização. Trabalhadores poucos qualificados se mudaram para Macaé atrás de promessas de emprego.

Nos bairros pobres, a violência é assunto tabu. Nos últimos anos, três líderes comunitários foram assassinados. O secretário de governo André Braga diz que a prefeitura está reprimindo invasões e urbanizando favelas. Foram instaladas 20 câmeras na cidade.

¿ Macaé precisa transformar sua riqueza econômica em bem estar social ¿ resume Ranulfo Vidigal, diretor-executivo da Fundação Cide.

Hoje, em Macaé, 26% dos empregados com carteira assinada ganham mais de dez salários-mínimos. Situação bem diferente da vivida por Campos, onde apenas 3,7% dos trabalhadores estão no grupo mais rico. A cidade, porém, tem o segundo maior orçamento do Estado, atrás apenas da capital, graças às receitas do petróleo. Foram R$759 milhões em 2004.

¿ Campos deveria ter um quadro social bem melhor. E falta dinamismo econômico ¿ diz Vidigal.

Há três anos, a prefeitura de Campos criou um fundo com recursos dos royalties para financiar a instalação de indústrias. Já são 50 projetos, somando R$201 milhões. Uma das metas é agregar valor à cadeia produtiva de açúcar e álcool. A Usina Paraíso está investindo R$18 milhões numa fábrica de solventes que será inaugurada em junho. E a Policam fabricará goma xantana, um subproduto do açúcar.

¿ Mas também financiamos outros setores, porque queremos diversificar nossa economia ¿ explica Lucas Vieira, presidente do Fundo de Desenvolvimento de Campos.

A cidade sofre com a acentuada evasão da mão-de-obra do campo, principalmente para atividades ligadas à Petrobras e à indústria ceramista. Para Carlos Frederico de Menezes, da Universidade Rural, isso restringe a oferta de profissionais. Por isso, é comum a contratação de pessoal em outros estados, o que contribui para agravar as tensões no campo. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Campos, José do Amaral Ribeiro Gomes, isso implica um custo alto para alojar a mão-de-obra.

*Enviada especial

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