Título: IBGE FAZ 70 ANOS DE HISTÓRIA OLHANDO PARA O FUTURO
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 28/05/2006, Economia, p. 39

Inaugurado na Era Vargas, instituto se tornou o responsável pela coleta de dados socioeconômicos sobre o país

Um senhor que sabe tudo do Brasil faz 70 anos amanhã. Mas cheio de novidades. Sete décadas atrás, o então presidente Getúlio Vargas nomeou uma equipe no governo para construir o que chamou, em termos técnicos, de ¿arcabouço dos sistemas de informação do país¿. Estava criado o Instituto Nacional de Estatística (INE), que ao incorporar, tempos depois, o Conselho Brasileiro de Geografia transformou-se no agora septuagenário Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Idoso, prepara-se para tornar contínuas suas principais pesquisas e estender a todo o território nacional os levantamentos sobre emprego e inflação.

¿ Ao longo desses anos, sempre desempenhamos o papel importante de produzir informações de acordo com a realidade brasileira de cada época ¿ diz Eduardo Pereira Nunes, 25º presidente do IBGE, desde 2003 no comando de 7.053 funcionários, dos quais 1.675 com curso superior.

IBGE faz duas mil entrevistas domiciliares diariamente

Mesmo quem vê o IBGE pelo gigantismo de seus números atuais minimiza sua importância. Por dia, são duas mil entrevistas domiciliares para a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e coleta de preços de mais de 500 gêneros de consumo. Por mês, investiga a produção de 3.700 indústrias e 7.600 empreendimentos comerciais em todo o país. Dia sim, dia não, o IBGE processa uma informação nova, diz a diretora de Pesquisas, Wasmália Bivar.

É pouco. Desde os anos 60, o IBGE visita cerca de 140 mil lares uma vez por ano para entregar aos brasileiros a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o mais completo diagnóstico socioeconômico do país. Uma vez por década, visita cada residência para contar a população e suas condições de vida. Investiga a produção agrícola nos 5.564 municípios. Pesquisa preços de 8.800 insumos para gerar 46 mil informações sobre o custo da construção civil em todos os estados.

¿ Afora tudo isso, o IBGE participou, por exemplo, dos estudos no Centro-Oeste que ajudaram a escolher o local que abrigaria a futura capital, Brasília. Ou seja, a área de geografia foi fundamental no planejamento do processo de ocupação do território nacional ¿ festeja Nunes.

Quando o IBGE surgiu, oito em cada dez habitantes do Brasil viviam no campo. Hoje, a proporção é de 80% nas cidades. A primeira contagem da população nacional foi feita em 1872, por decisão do imperador Dom Pedro II. Mas o primeiro censo, o de 1940, foi o primeiro elaborado em acordo com normas internacionais e pioneiro em incorporar perguntas sobre fecundidade e mortalidade infantil.

Aperto financeiro ameaça qualidade do trabalho

Nos anos 60 e 70, o IBGE pôs na rua as pesquisas que, mais tarde, viabilizariam o conjunto de estudos sobre o aumento da desigualdade de renda, social e regional no país. No mesmo período, foram desenvolvidas as contas nacionais, que mediram a expansão econômica no milagre brasileiro e a recessão na década perdida.

Em 1979, quando a hiperinflação ainda não batia à porta, começou a calcular índices de preços. Hoje, seu IPCA é referência do sistema de metas de inflação, pelo qual o Banco Central baliza a política monetária.

O Brasil mudou muito. E o IBGE o acompanhou. Não sem custos. Durante a ditadura militar, teve alguns de seus técnicos demitidos por se recusarem a manipular índices de inflação. Precisou adiar por um ano o Censo de 1990 e, também por razões orçamentárias, não fez a Pnad em 1994.

O aperto financeiro é constante. Em 2005, a verba liberada foi suficiente para honrar sem atraso todos os pagamentos. Este ano, o atraso na aprovação do Orçamento federal só permitiu a liberação de um duodécimo da verba prevista a cada mês.

¿ Até agora, isso não nos atrapalhou de forma substancial. Nosso único temor é de que o contingenciamento das receitas atinja nossa verba ¿ diz Nunes, sugerindo o que desejaria de presente para o aniversário.