Título: SINAIS DA POBREZA NAS RUAS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 28/05/2006, O Mundo, p. 46

Roubos de tampas de bueiro se transformam em praga no país

BOGOTÁ. Na falta de trabalho, alguns vendem livros, DVDs ou softwares pirateados nas ruas da capital. Outros, mais talentosos, desenham perfis de transeuntes em busca de uns trocados. Mas há também quem busque o pão de cada dia abrindo buracos na cidade. Ou melhor, destapando buracos. São os ladrões de tampas de bueiros da companhia de águas e esgotos ou da empresa telefônica. Nada menos que dez mil delas foram surrupiadas só em Bogotá no ano passado, para serem vendidas como sucata a ferros-velhos por algo entre o equivalente a US$5 e US$10, um bom dinheiro num país onde 49% da população é pobre.

Os roubos se tornaram muito freqüentes, sem que as empresas ou a prefeitura ¿ responsável pela manutenção das vias públicas ¿ tomasse providências rápidas, apesar das queixas constantes de motoristas, que freqüentemente viam seus carros entalados num dos buracos.

No entanto, um dia depois do Natal do ano passado, um menino de 6 anos morreu ao despencar num desses buracos. Ele corria atrás de seu pequeno carro dirigido por controle remoto e não notou que faltava a tampa de um bueiro da rua de sua casa. Desde então as autoridades passaram a ser mais ágeis.

As empresas cujos trabalhadores utilizam esses buracos como acesso a instalações que precisam manter ¿ há pouco mais de 200 mil bueiros em Bogotá ¿ resolveram testar novos tipos de tampa. As tradicionais se tornaram atraentes por serem de ferro e pesarem 50 quilos. Mas até agora não se encontrou a tampa ideal.

Um primeiro teste foi feito com tampas de concreto, contendo apenas 18 quilos de ferro, mas falhou:

¿ Os sujeitos simplesmente destruíam o cimento e levavam os anéis de ferro ¿ contou Juan Carlos Suarez, da Companhia de Águas e Esgotos de Bogotá.

Tentou-se, em seguida, uma tampa feita de plástico polietileno de alta densidade. Ninguém se interessou em roubá-las, mas os motoristas continuaram se queixando: elas saltavam quando os carros passavam sobre elas, deixando os bueiros abertos. (J.M.P.)