Título: Economia cresce, mas não reduz a miséria
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 28/05/2006, O Mundo, p. 46

Metade da população vive abaixo da linha de pobreza e desigualdade social é a mesma de 60 anos atrás

BOGOTÁ. As classes média e alta estão satisfeitas com a sensação de segurança que lhes vem proporcionando o presidente Álvaro Uribe e com os índices gerais da economia. E por isso ajudarão a reelegê-lo hoje. Os demais, no entanto, esperam que nos próximos quatro anos ele lhes dê mais atenção. Esse grupo é composto pela maioria da população. E dentro dela estão os 49,2% de colombianos que vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, praticamente metade do país. Isto, porém, se não for levado em conta o fato de o governo ter alterado a maneira de calcular o índice de pobreza. Pela fórmula antiga, o nível atual chegaria a 60%.

¿ O maior desafio do presidente será enfrentar o déficit social, quer dizer, gerar empregos, investir em habitação popular, educação, saúde, e atender os que foram desalojados pelo conflito armado ¿ diz Vicente Torrijos, professor de política da Universidade do Rosário, referindo-se aos cerca de três milhões de colombianos (9% da população) que foram expulsos de suas casas e terras por grupos guerrilheiros ou paramilitares e engrossam as filas dos desempregados ou subempregados.

Benefícios de progresso não são distribuídos

Um recente informe do Banco Mundial indicou que as desigualdades sociais na Colômbia hoje são iguais às de 60 anos atrás. O que significa que se a economia está crescendo num ritmo extraordinário ¿ 5,13% no ano passado, o índice mais alto dos últimos dez anos, com as exportações dando um salto de US$12 bilhões para US$21 bilhões ao longo do governo Uribe ¿ os benefícios desse progresso continuaram a ser mal distribuídos.

Que o diga Juan Dominguez, um mecânico que como muitos outros colombianos ¿ mais precisamente 69% dos trabalhadores ¿ sustenta sua família graças a pequenos serviços que consegue, percorrendo as ruas de Bogotá em busca de oficinas ou de motoristas que necessitem de ajuda.

¿ Tenho mulher e um casal de filhos e não posso deixá-los morrer de fome. Por isso faço de tudo um pouco. Se não consigo algum trabalhinho na minha área, aceito qualquer coisa, como isso aqui, que é temporário mas me garante a comida do dia para a família ¿ diz ele, recolhendo fezes de cachorros em frente à Casa Medina, um dos hotéis mais elegantes na zona norte (a mais rica) de Bogotá.

A taxa de desemprego hoje é de 13%. Este índice adquire outro peso quando se considera que apenas 31% dos colombianos adultos têm, de fato, um emprego formal ¿ num país em que a inflação está em 5% anuais.

Várias reformas tributárias e reestruturações no governo resultaram, na prática, na demissão de milhares de funcionários públicos. Privatizações realizadas nos últimos quatro anos, sob sugestão do Fundo Monetário Internacional, culminaram numa situação semelhante.

Um dos fatores que mais contribuíram para o inesperado crescimento econômico da Colômbia no ano passado foi a recuperação do consumo, que cresceu 4,87% e foi sustentado tanto pelo crescimento do consumo privado (4,89%) quanto do público (4,8%). Houve ainda um aumento na formação de capital bruto (29%), sem contar um salto de 4,65% nas exportações de 2004 para 2005.