Título: Novo secretário: governo tem poder para enfrentar o crime organizado
Autor: Cristina Cristiano
Fonte: O Globo, 27/05/2006, O País, p. 4
Catirse, que já foi guarda de presídio, deve seguir os passos de Furukawa
SÃO PAULO. O novo secretário de Administração Penitenciária, Luiz Carlos Catirse, disse ontem, em rápida entrevista no Palácio dos Bandeirantes, que o estado tem poder para enfrentar as organizações criminosas que atuam nas penitenciárias paulistas. Ele disse que o governo tem capacidade para controlar a situação, mas não detalhou como será esse combate.
- O poder dessas organizações está aí, todo mundo viu. Não estou dizendo que não reconheço o poder do crime organizado. Estou dizendo que temos que reconhecer o poder do estado - afirmou o novo secretário, que assume interinamente no lugar de Nagashi Furukawa.
Para Catirce, o estado deve ter equilíbrio para garantir que haja segurança e justiça nas cadeias. Segundo ele, medidas que já foram tomadas, como o isolamento de chefes do crime organizado, devem permanecer.
Catirce, que era coordenador de presídios no Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista, foi diretor da Penitenciária de Casa Branca e Itapira, no interior de São Paulo. O governador Cláudio Lembo (PFL) disse que ele pode ser substituído na semana que vem por "alguém com um perfil mais político":
- Ele é interino e não há um prazo para eu escolher um outro nome. Ele pode até ficar no cargo porque é funcionário público - disse Lembo.
Secretário começou carreira como guarda de presídio
Administrador de empresas e pedagogo, Catirse tem 48 anos e trabalha há 29 na Secretaria da Administração Penitenciária (SAS), onde começou a carreira como guarda de presídio.
Além de ser o coordenador dos presídios no Vale do Paraíba, onde fica o presídio de Taubaté, um dos mais perigosos do estado (o motoboy Francisco de Assis Pereira, o maníaco do Parque, está preso lá), ele já dirigiu as penitenciárias consideradas de segurança média. Durante os quase sete anos em que Nagashi Furukawa ocupou a pasta, Catirse trabalhou ao lado dele, seguindo a sua orientação. Tímido e avesso a entrevistas, o novo secretário deverá dar continuidade aos passos de Furukawa na Secretaria de Assuntos Penitenciários. Segundo afirma, não pensa em mudar nada, nem mesmo o modo de atuação com a facção criminosa que domina os presídios de São Paulo.
No primeiro contato com a imprensa, o novo secretário procurou evitar comentários sobre como vai atuar para impedir rebeliões e o crescimento da facção. Segundo ele, o segredo para o sistema penitenciário funcionar é controle, segurança e justiça.
*Do Diário de S. Paulo, com Globo OnLine
'É um jogo de pressões'
Thomaz Bastos lamenta saída e elogia ex-secretário
SÃO PAULO. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, lamentou ontem a saída de Nagashi Furukawa da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo e lembrou que, em alguns casos, "as pressões se tornam insuportáveis":
- A vida pública é assim mesmo, há momentos em que as pressões se tornam insuportáveis - disse o ministro, que elogiou o secretário demissionário. - Ele é um juiz extremamente competente e que conhece muito bem o direito penitenciário.
Thomaz Bastos destacou que as suspeitas de que houve excesso da polícia na reação contra o crime precisam ser investigadas.
- É um jogo de pressões. A sociedade está mobilizada em busca dessas investigações, que serão feitas e são difíceis. Tenho certeza de que o governo de São Paulo vai dar todas as explicações sobre o caso. Se tiver havido abuso, ele será investigado pela corregedoria da polícia - disse o ministro, que inaugurou em Diadema, na Grande São Paulo, um sistema que usa câmaras de vídeo no policiamento.
O procurador de Justiça de São Paulo Rodrigo Pinho disse que a demissão era uma questão de caráter político.
Tido como uma das autoridades que entrou em rota de colisão com Furukawa, o comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, desconversou:
- Desconheço a saída dele.