Título: CPI QUER CASSAR REGISTRO DE ADVOGADOS
Autor: Leila Youssef
Fonte: O Globo, 27/05/2006, O País, p. 10

Moroni Torgan pede punição para os dois que pagaram por gravação

BRASÍLIA. O presidente da CPI do Tráfico de Armas, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), pediu ontem à Ordem dos Advogados do Brasil a cassação do registro profissional dos advogados Sérgio Wesley da Cunha e Maria Cristina Rachado, acusados de subornar um funcionário da Câmara em troca de gravações sigilosas da comissão. A cúpula da CPI pretende cobrar da OAB a criação de uma câmara técnica especial para julgar e propor o afastamento da instituição de todos os advogados envolvidos com o crime organizado.

O presidente da OAB, Roberto Busatto, será ouvido pela CPI na próxima quarta-feira. Para Moroni, é inaceitável que advogados usem as prerrogativas profissionais para prestar serviços ilegais para criminosos:

- Não podemos admitir que bandidos usem indevidamente a carteira da OAB. Uma coisa é atuar como advogado. Outra coisa, bem diferente, é atuar dentro da quadrilha.

Deputado diz que advogados são reféns de facções

Maria Cristina e Sergio da Cunha são acusados de pagar R$200 a um técnico de som da Câmara para ter acesso às gravações de uma sessão sigilosa em que a CPI ouviu dois delegados sobre a facção criminosa que aterrorizou São Paulo na semana passada com assassinatos de policiais e rebeliões em presídios. As gravações foram feitas no dia 10, antes do início dos ataques dos criminosos.

Ex-relator da CPI do Narcotráfico, Moroni sustenta que são fartos e antigos os indícios de que advogados inescrupulosos estão a serviço do crime.

- Não queremos coibir o direito dos advogados. Mas queremos transparência. A OAB tem que ter mecanismos para apreciar essas denúncias com celeridade - afirma.

Moroni afirma que alguns advogados estão se transformando em reféns da facção paulista. Segundo ele, em muitos casos, presos comuns se aliam a facções criminosas nos presídios e, a partir daí, exigem que seus advogados sirvam de mensageiros da quadrilha. Aqueles que recusam o serviço ou tentam deixar estariam sendo ameaçados de morte. Para o deputado, a OAB e outras instituições devem se preparar para garantir o livre exercício da advocacia.

O comando da CPI deve se reunir, na terça-feira, com presidentes de Tribunais de Justiça. Devem propor a criação de varas especializadas em julgar processos ligados ao crime organizado. Parlamentares sugerem a instituição da figura do juiz sem rosto, como na Itália.