Título: 'Pode até xingar o juiz, mas não em campo'
Autor: Leila Youssef
Fonte: O Globo, 27/05/2006, O País, p. 10

Para especialistas, tanto os parlamentares quanto o advogado Sérgio Wesley exageraram no tom dos deboches

Houve excesso dos dois lados. É essa avaliação que especialistas em temas políticos fizeram do episódio que resultou na prisão do advogado de uma facção criminosa de São Paulo, Sérgio Wesley da Cunha, durante depoimento anteontem na CPI do Tráfico de Armas. Numa sessão repleta de deboches, ele ouviu do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP):

- Você aprendeu bem com a malandragem, hein?

O advogado respondeu:

- A gente aprende rápido aqui.

Para o cientista político Marcus Figueiredo, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), a frase do advogado teve na população o mesmo efeito que as revelações do deputado cassado Roberto Jefferson sobre o mensalão:

- O advogado disse o que está no imaginário popular: que há malandros entre os políticos. Ele não falou mentira, mas é inaceitável que o tenha feito numa situação formal.

Figueiredo diz que, assim como o presidente Lula disse que no Congresso havia 300 picaretas, o advogado poderia ter se manifestado, mas longe dali.

- A atitude dos parlamentares foi correta ao pedir a prisão para proteger a instituição. A relação é a mesma de um jogador de futebol. Pode até xingar o juiz, mas fora de campo.

"A imagem do Congresso está muito ruim", diz jurista

O ex- ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados Célio Borja disse que o que aconteceu na CPI é o retrato fiel da" absoluta desordem" dos interrogatórios nas comissões de inquérito do Congresso:

- Parlamentares, assim como um juiz num tribunal, têm o dever de respeitar o réu. Mas os parlamentares não observam essa regra. Se eles se colocam na posição de um juiz, não podem deixar acontecer cenas exibicionistas, boçais e feias.

Para Borja, que considera a imagem do Congresso muito ruim, Wesley não poderia ter dado aquela resposta, mas fez a chamada retorsão.

- Ou seja, pagou na mesma moeda. Mas ninguém teve razão nessa história, com falta de educação dos dois lados - disse o jurista, considerando, no entanto, que os parlamentares acertaram ao ordenar a prisão.

Segundo David Fleischer, diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas do Centro Universitário do Distrito Federal , o advogado provocou os parlamentares que andam em busca de holofotes:

- Sérgio Wesley fez provocação, mas os deputados quiseram tirar proveito. Para limpar a imagem ruim do mensalão, quiseram mostrar que podem investigar. É um erro. O assunto é da Polícia Federal e do Ministério Público.