Título: PARA PF, 'CASTORES' TAMBÉM ATUAM NO EXTERIOR
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 27/05/2006, O País, p. 11

Documentos têm indícios de contas em paraísos fiscais e lista de pagamento de propina disfarçada em consultoria

BRASÍLIA. A Polícia Federal suspeita que a atuação da quadrilha acusada de fraudar contratos com estatais do setor elétrico vai além das fronteiras do país. Entre os documentos apreendidos durante a Operação Castores, no início desta semana, os policiais encontraram indícios de que integrantes da organização mantêm contas secretas em paraísos fiscais como Ilhas Cayman, Suíça e até em Nova York, nos Estados Unidos.

Entre os papéis suspeitos foram encontrados ainda nomes de offshores e listagem de pagamento de altas somas em propinas supostamente disfarçadas em contratos de consultoria.

A organização é acusada de cobrar propina para reduzir valores de multas e aumentar valores das dívidas de Itaipu Binacional, Furnas Centrais Elétricas e Eletronorte com algumas empresas privadas. Entre os presos por suposto envolvimento com o grupo estão José Roberto Paquier, assessor do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), e o empresário Laércio Pedroso.

Só em um dos negócios, integrantes da organização teriam amealhado R$550 mil. Num outro acerto, o grupo recebeu 240 mil euros (cerca de R$710 mil). Segundo a polícia, a propina era fixada entre 1% e 2% do valores de cada contrato negociado.

Empresário diz que pagou R$400 mil por contrato

Embora os percentuais sejam considerados baixos, os valores finais são expressivos porque, conforme a polícia, boa parte dos contratos intermediados pelos chamados castores estava acima de US$1 milhão (cerca de R$2,3 milhões).

- É muito dinheiro. Os contratos das estatais com alguns fornecedores estão na casa dos milhões - disse um dos investigadores do caso.

As suspeitas sobre as fraudes foram reforçadas pelo empresário José Della Volpe, dono da transportadora Transpesa Della Volpe, um dos seis presos na operação. Em depoimento à PF na quinta-feira, em Curitiba, Della Volpe disse que pagou cerca de R$400 mil a integrantes do grupo em troca da intermediação de um contrato de R$20 milhões com Furnas e Itaipu e de R$8 milhões com a Eletrosul. O empresário disse que fez os repasses a titulo de pagamento por uma suposta consultoria da organização sobre o cálculo de dívidas dessas estatais com a Transpesa Della Volpe.

Mas, para a polícia, a consultoria seria apenas uma forma de pagar a propina sem chamar a atenção da fiscalização. A polícia chegou a essa conclusão porque a dívida teria sido aumentada artificialmente. Pelas informações da polícia, os castores superfaturavam os valores das dívidas e, depois, por meio de tráfico de influência nas estatais asseguravam o pagamento dos contratos fraudados. A PF descobriu ainda que, em alguns casos, o pagamento de propina era intermediado por empresas que, em princípio, não mantinham nenhum vínculo com as estatais.

A polícia está investigando vários dirigentes de estatais suspeitos de serem cúmplices dos castores. Um deles, ex-assessor de um senador, dá expediente na Eletronorte em Brasília. Ele será chamado para se explicar nos próximos dias. Na terça-feira, na chama Operação Castores, a PF prendeu seis empresários, lobistas e servidores públicos acusados de cobrar propina para intermediar negócios irregulares com estatatais do setor elétrico.