Título: VALORIZAÇÃO DO DÓLAR FAZ FUNDO CAMBIAL TER MAIOR GANHO DESDE 2002: 13,38%
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 29/05/2006, Economia, p. 17

Analistas prevêem que moeda encerre o ano em queda e recomendam cautela

ólar deve encerrar o ano em torno de R$2,15

A escalada da cotação do dólar, nas últimas duas semanas, fez disparar a rentabilidade dos fundos cambiais, que atingiram, em maio, a maior valorização mensal desde a crise com as eleições presidenciais de 2002. Em apenas 11 dias ¿ entre 10 e 24 de maio ¿ a moeda americana avançou 16,76% em relação ao real, o que garantiu à categoria de fundos uma rentabilidade de 13,38% no acumulado do mês até o dia 24, de acordo com dados do site Fortuna. Foi o maior ganho mensal desde setembro de 2002, quando os fundos cambiais renderam 21,36% no auge da crise eleitoral.

Apesar da forte alta ¿ devido ao temor de uma aceleração no ritmo de elevação dos juros americanos ¿ analistas acreditam que, a exemplo do que ocorreu na última quinta e sexta-feira, a tendência do dólar continua sendo de queda. Por isso, eles não mexeram nas projeções para o câmbio: estimam que a moeda americana encerrará o ano entre R$2,15 e R$2,20. E recomendam aos investidores manterem distância dos fundos cambiais.

¿ Esse é um investimento de alto risco. Na semana passada, quando a moeda americana chegou a subir mais de 4%, milhões de dólares trocaram de mãos e vários investidores profissionais perderam muito dinheiro. Imagine então o risco de um pequeno investidor tentar faturar com a alta da moeda... Com a taxa de juro ainda tão alta, não vejo motivo para alguém se arriscar no mercado de câmbio, onde é muito difícil entrar e sair na hora certa ¿ avalia Jorge Knauer, gerente de Câmbio do Banco Prosper.

Compra da moeda `só em caso de viagem ou dívidas¿

Roberto Beniste, gestor da Mellon Global Investments, recomenda que, a não ser que haja uma ¿viagem para o exterior no horizonte ou dívidas em dólar¿, não há motivo para o investidor comprar a moeda.

¿ O dólar não costuma fazer parte da cesta de consumo das pessoas. Além isso, não é papel do pequeno investidor tentar tirar partido das oscilações do mercado. Assusta ver o dólar subindo mais de 3% num dia, mas pode assustar ainda mais arriscar parte do patrimônio num mercado tão volátil como o de câmbio. Vivemos um período de prudência e não de especulação ¿ alerta Roberto Beniste, gestor sênior de Fundos da Mellon Global Investments.

O economista Marcelo D¿Agosto, autor do livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿, lembra que, nos últimos quatro anos, apenas em 2002 os fundos cambiais tiveram desempenho positivo:

¿ Só vale mesmo para quem tem dívidas na moeda e, mesmo assim, cuidado: os fundos não refletem toda a alta ou queda do dólar. E, se a moeda continuar a cair, o investidor pode ter perdas ¿ diz D¿Agosto.

O economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, explica que a contínua entrada de dólares de exportadores e as elevadas taxas de juros ¿ o país tem o maior juro real do mundo, o que tem atraído investidores estrangeiros ¿ tendem a empurrar a cotação do dólar para patamares mais baixos que o atual. Isso porque, para aplicar em títulos que rendem juros altos, estrangeiros vendem dólares no mercado e compram reais, fazendo a cotação ceder. Da mesma forma, ao trazerem para o país os dólares provenientes de exportação, as empresas ajudam a valorizar o real.

¿ O dólar me parece hoje muito acima do que seria uma taxa de equilíbrio. A alta aconteceu rápido demais para parecer um movimento consistente. Se o cenário externo não se deteriorar, a alta deve ser passageira e o dólar pode chegar ao fim do ano próximo dos R$2,15 ¿ calcula Póvoa.

Já o economista Luís Fernando Lopes, sócio do Banco Pátria, está mais otimista e prevê um dólar entre R$1,95 e R$2 em dezembro:

¿ Mas até lá, os caminhos serão tortuosos, com muitas oscilações. Portanto, todo cuidado é pouco.