Título: BRASILEIROS FOGEM DOS CONFLITOS NO TIMOR LESTE
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 29/05/2006, O Mundo, p. 19

Trinta e oito são removidos para dois hotéis fora da zona de distúrbios e 33 deixam o país

PEQUIM. Em mais um dia de distúrbios em Díli, a capital do Timor Leste, 38 brasileiros, entre eles três crianças, foram removidos ontem para os hotéis Central e Farol, no centro da cidade, e outros 33 deixaram o país, segundo o embaixador brasileiro Antonio de Souza e Silva. Os brasileiros removidos trabalham em ONGs nas regiões mais pobres da capital. Milhares de estrangeiros e moradores já deixaram Díli temendo o agravamento dos conflitos.

O Conselho de Estado do Timor, formado pelo primeiro-ministro Mari Alkatiri; o presidente, Xanana Gusmão; todos os ministros; e os líderes do Parlamento, reúne-se hoje para decidir como acabar com a escalada de violência pelo confronto armado entre soldados leais ao governo e ex-militares amotinados que se refugiaram nas montanhas na periferia.

¿ A situação ainda é incerta, aos conflitos se somaram ataques de gangues a casas e moradores numa guerra étnica cujo combustível é a insatisfação popular com o governo de Alkatiri. As forças internacionais restauraram um pouco da ordem, mas a situação permanece confusa ¿ disse Souza e Silva.

Há ainda cerca de 150 brasileiros no país. Diane Cruz de Almeida dá aulas de biologia e integra o grupo de 30 professores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação que estão ajudando a reconstruir o sistema educacional do país. Segundo ela, a situação ainda é tensa.

¿ Há muitas informações truncadas e a recomendação para que as pessoas permaneçam em suas casas continua ¿ disse ela, que está dormindo no conjunto de prédios da ONU em Díli. ¿ A chegada de mais soldados de Portugal, Malásia e Nova Zelândia deve ajudar a restaurar a ordem, mas ninguém faz idéia se o conflito entre etnias vai evoluir ou não para uma guerra civil.

Até ontem, a violência na capital tinha deixado 23 mortos e dezenas de feridos.

A crise no Timor Leste ¿ ex-colônia portuguesa de cerca de um milhão de habitantes que por 25 anos foi ocupada pela Indonésia ¿ explodiu quando cerca de 600 soldados da Força de Defesa do Timor Leste (FDTL), um terço da tropa de 1.800 homens que substitui as Forças Armadas, resolveram acusar de discriminação étnica seus superiores. Os soldados rebelados aproveitaram a insatisfação popular com o governo e a juventude desiludida do país para arregimentar apoio e atacar não apenas a FDTL, mas a polícia e órgãos do governo timorense.

Ministério do Exterior diz que grupo quer ficar no país

Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores afirma que, por conta dos distúrbios, a Embaixada do Brasil em Díli vem mantendo contato permanente com a comunidade brasileira no Timor Leste. E informa que o grupo de 38 pessoas é integrado basicamente por missionários e manifestou a intenção de permanecer no país.

COLABOROU: Jaílton de Carvalho, de Brasília