Título: Apostas de risco
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 30/05/2006, O País, p. 2

Os articuladores da candidatura do presidente Lula à reeleição estão apostando tudo numa aliança com o PMDB. Para isso, vão adiar até a última hora a escolha do candidato a vice. Pode ser um erro. Muito dificilmente o PMDB terá unidade interna para aprovar uma coligação oficial, seja com quem for. Nesta aposta, Lula pode acabar desagradando aos outros aliados que esperam pela vaga.

O atual vice-presidente, José Alencar, tem reclamado intramuros da indelicadeza dos petistas, que ficam discutindo pelos jornais a troca de seu nome por outro. O ministro Ciro Gomes, que na semana passada era apontado como nome quase certo, também não aprecia o vai-e-vem. Seu partido, o PSB, o pressiona a ser candidato a deputado federal no Ceará. Como puxador de votos, poderia ajudar decisivamente a legenda no desafio de vencer a cláusula de barreira.

Alencar está sendo posto no centro das articulações para atrair o PMDB. Ele seria o vice agora, ainda pelo PRB, mas se filiaria ao PMDB em 2007. O arranjo serviria ao propósito de assegurar a Lula o apoio do PMDB, ou pelo menos de sua maior fração, num eventual segundo mandato. Além do apoio eleitoral, naturalmente.

Assegurar a governabilidade e a superação do ambiente de beligerância em favor de convergências para o desenvolvimento e estabilidade política deve ser a preocupação maior dos candidatos. Principalmente dos que estão no centro da disputa, como Lula e Geraldo Alckmin. Para isso, será preciso garantir muito mais que os votos do PMDB, que, tudo indica, será o maior partido na Câmara.

Hoje, porém, prevalece a lógica eleitoral e ela é que está ditando as opções, tanto do PT como do PSDB, que nesta terça-feira reúne pela primeira vez o conselho político da coalizão com o PFL. Na semana passada foi anunciado um armistício na luta interna entre tucanos e pefelistas mas ontem o prefeito Cesar Maia atacou de novo, voltando o fogo contra o governador de Minas, Aécio Neves. Acusou-o de não ter efetivamente zerado o déficit orçamentário do estado, como já foi anunciado. A resposta oficial do governador esclarece que foi equacionada a relação entre receitas e gastos correntes, sendo aquelas suficientes para cobrir com sobra as despesas. Outra coisa é a dívida flutuante acumulada, de curto e longo prazo. O que não se entende é quantos votos o aliado Cesar pretende carrear para o candidato Alckmin com as críticas públicas.

Nas duas candidaturas há portanto movimentos eleitorais de risco. O de Lula tem a forma desta hesitação sobre o vice, que pode gerar um mal-estar entre aliados. Na campanha de Alckmin, continua grassando o fogo amigo, prática ainda mais deletéria.