Título: GRUPOS DE EXTERMÍNIO ASSASSINARAM 27
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 30/05/2006, O País, p. 3

Ouvidoria apura participação de policiais; 12 vítimas não tinham ficha na polícia

SÃO PAULO. Pelo menos 27 pessoas, 12 delas sem passagem pela polícia, foram executadas por grupos de extermínio em São Paulo entre os dias 12 e 19 de maio. A Ouvidoria de Polícia investiga a possível participação de policiais nas mortes. Relatório preliminar elaborado pela Defensoria Pública mostra que 11 jovens mortos em circunstâncias desconhecidas foram atingidos por tiros nas costas e na cabeça.

Hoje em Brasília representantes de entidades de defesa dos direitos humanos pedirão ao Conselho Nacional de Defesa da Pessoa Humana que envie um grupo a São Paulo para averiguar o empenho da Secretaria de Segurança Pública nas investigações. Se a avaliação for negativa, a comissão pedirá a federalização das investigações.

Nos nove casos que resultaram nas 27 execuções, os assassinos usavam máscaras e capuzes e carregavam armas de grande letalidade. Dez mortes ocorreram em Guarulhos, onde existe um histórico de chacinas promovidas por grupos de extermínio com a participação de policiais. Desde 2004 não havia registros de ações desses grupos na região.

- Não temos mais dúvidas de que essas mortes foram obra de grupos de extermínio - disse o ouvidor de polícia, Antonio Funari Filho.

Segundo ele, por se tratarem de assassinatos de autoria desconhecida, esses casos devem ser priorizados.

- Quanto mais o tempo passa, mais difícil fica identificar os autores - disse.

Segundo relatos registrados pela Ouvidoria, em vários casos o local do crime foi modificado, prejudicando a perícia. Em alguns dos relatos as testemunhas dizem ter reconhecido policiais.

Vítimas não foram contabilizadas pela Secretaria de Segurança

Registradas como vítimas de crimes de autoria desconhecida, as 27 vítimas de execuções não estão entre os 110 mortos civis contabilizados pela Secretaria de Segurança Pública.

Ontem, a Comissão Especial Independente criada por autoridades e defensores dos direitos humanos para acompanhar as apurações realizou uma audiência pública em Guarulhos, onde a situação é considerada crítica. Entre os dias 13 e 19 foram registradas 56 mortes por arma de fogo na cidade.

Nos próximos dias a Comissão vai colher relatos de parentes das vítimas, fazer um relatório e encaminhá-lo ao Ministério Público.

- De todos os casos, o de Guarulhos é o mais grave devido à quantidade e ao histórico - disse o advogado Ariel de Castro Alves, que integra a Comissão.

- Queremos que o Conselho verifique se a Secretaria de Segurança Pública está se empenhando nas apurações de todas as mortes de policiais, suspeitos e de vítimas dos grupos de extermínio- explicou o advogado.

Caso o Conselho, que é presidido pelo secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanuchi, veja falhas nas investigações, a comissão vai pedir à Procuradoria Geral da República que o caso seja federalizado.

- O Ministério Público Federal costuma ser muito sensível aos pedidos do Conselho- disse Alves.

Se o Ministério Público Federal aceitar o pedido de federalização, a Polícia Federal, cujo auxílio foi rejeitado pelo governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), deve entrar nas investigações contrariando a vontade do governo paulista.