Título: SUZANE VAI PARA CASA ESPERAR O JULGAMENTO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 30/05/2006, O País, p. 5

Assassina confessa dos pais ficará em prisão domiciliar vigiada 24 horas por dia pela polícia; júri começa segunda-feira

SÃO PAULO. Depois de ficar presa, pela segunda vez, por 47 dias, Suzane von Richthofen deixou ontem o Centro de Ressocialização de Rio Claro, no interior de São Paulo. Ela permanecerá em prisão domiciliar até o julgamento, marcado para a próxima segunda-feira.

Suzane saiu da cadeia às 17h45m protegida por um forte esquema de segurança e sob gritos de assassina de cerca de 50 pessoas. Foi levada num carro da polícia, sentada entre dois investigadores, para a casa da família de seu tutor, Denivaldo Barni, no bairro do Morumbi, em São Paulo, onde ela mora desde que deixou a penitenciária pela primeira vez, em junho de 2005. Barni é um dos advogados de Suzane e a defende na ação em que ela pede para administrar os bens da família.

"Decisão cria um estado de confusão", diz promotor

Ré confessa do assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, Suzane voltou para a cadeia em abril .

- Essa decisão da Justiça de mandá-la para casa cria um estado de confusão. Afinal, prisão domiciliar num caso como o dela não existe. Só caberia, por exemplo, a pessoas com grave problema de saúde, mas ela é uma menina que vende saúde - critica o promotor Roberto Tardelli.

Um dia antes de voltar para a cadeia, o programa "Fantástico", da TV Globo, exibiu uma reportagem em que advogados orientavam Suzane a chorar diante das câmeras.

Ao deixar ontem o Centro de Ressocialização, Suzane seguiu num carro do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para o apartamento de Barni. Normalmente feita em duas horas, a viagem de Rio Claro a São Paulo durou pouco mais de uma hora. Emissoras de TV acompanharam o trajeto de Suzane em helicópteros. Ela chegou ao prédio por volta das 19h. Uma multidão a esperava diante da portaria, novamente aos gritos de assassina. Ela caiu no meio da confusão, antes de conseguir entrar no prédio, cercada por dezenas de fotógrafos e cinegrafistas.

Os moradores do prédio onde ela ficará sob escolta 24 horas estavam indignados.

- A Justiça transformou meu prédio numa prisão e agora todos nós somos vigiados por policiais - disse uma moradora, que não quis se identificar.

Advogado quer prisão domiciliar para irmãos

Suzane enfrentará o júri popular ao lado dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, que confessaram ter matado a pauladas os pais dela. Depois de arquitetar o plano, a jovem abriu a casa para os assassinos, subiu até o quarto dos pais para se certificar que eles estavam dormindo e em seguida deu o sinal verde para que os irmãos Cravinhos matassem o casal.

Depois do crime, Suzane foi com Daniel, com quem namorava há mais de um ano, para um motel. Diante das pistas de que havia participado do crime, Suzane confessou e passou a responsabilizar os irmãos. Segundo ela, os dois lhe davam maconha e ela estaria sob efeito da droga no instante em que seus pais foram mortos.

O advogado Geraldo Jabour, que defende os irmãos Cravinhos, também pedirá a concessão de prisão domiciliar para seus clientes. Cristian e Daniel também tiveram de voltar para a cadeia depois que deram entrevista a uma rádio.

COLABOROU: Bruno Folli, do Diário de S. Paulo

Sorteio para ver júri

Só 31 de três mil inscritos vão assistir

SÃO PAULO. Mais de três mil pessoas se inscreveram para acompanhar de perto o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, na próxima segunda-feira, no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Diante da procura, o Tribunal de Justiça resolveu fazer um sorteio e apenas 31 pessoas terão direito a ocupar alguns dos 80 lugares reservados na sala de júri também para parentes e jornalistas.

Foram tantas as solicitações de pessoas de várias partes do país que o sistema informatizado da Justiça paulista sofreu uma pane e as inscrições só seriam retomadas ontem à noite. As inscrições podem ser feitas apenas até as 18h de hoje. Na próxima quinta-feira será realizado o sorteio dos 31 nomes que poderão assistir às sessões.

Muitos dos que se inscreveram são alunos de direito e de psicologia. Entre eles está uma turma de 200 alunos de uma universidade de Varginha, em Minas Gerais. Estudantes de Manaus também pretendem ir a São Paulo para acompanhar o julgamento, segundo a assessoria do tribunal.

Juristas acreditam que o julgamento poderá se estender por até uma semana. Assim como ocorreu no julgamento do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas terão de se revezar em grupos de dez para acompanhar as sessões.

Morte Planejada

Suzane von Richthofen, de 22 anos, confessou ter planejado o assassinato dos pais, Manfred e Marísia Von Richthofen, em agosto de 2002. Ela havia voltado para a cadeia em 10 de abril passado: o juiz considerou que Suzane, que estava em liberdade desde 30 de junho de 2005, representava ameaça ao irmão, Andreas Richthofen. Os dois brigam na Justiça pela herança dos pais. O juiz considerou ainda que ela poderia tentar fugir do país.

O julgamento de Suzane está marcado para 5 de junho, juntamente com os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, que também confessaram participação no crime. Cristian e Daniel desferiram os golpes que mataram os pais de Suzane. Daniel era namorado de Suzane, que confessou ter facilitado a entrada dos dois irmãos na casa. Enquanto eles matavam o casal, ela ficou na biblioteca.