Título: CAPITAL DO TIMOR LESTE SOFRE COM DESABASTECIMENTO
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 30/05/2006, O Mundo, p. 28

Governo deve anunciar reforma de Gabinete. Nobel da Paz pode ser ministro da Defesa, diz jornal

PEQUIM. Enquanto o primeiro-ministro do Timor Leste, Mari Alkatiri, e o presidente Xanana Gusmão se reuniam ontem com membros do Conselho de Estado para analisar soluções para a ameaça de guerra civil que há uma semana paira sobre o país, o fantasma do desabastecimento começa a rondar a capital, Díli, segundo a Cruz Vermelha Internacional. Já há 40 mil timorenses refugiados em terrenos considerados neutros, como o escritório da ONU, hospitais e grandes hotéis, e começa a faltar comida e água.

- Os quiosques que vendem produtos foram queimados pelas milícias e somente um grande supermercado está funcionando, a portas fechadas, na cidade - contou Raimundo Santos de Castro, professor representante da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação do Brasil que está no Timor com cerca de 30 profissionais ajudando a reconstruir o sistema de ensino. - O comércio e empresas continuam fechados. Tanto a comida quanto a gasolina subiram estupidamente de preço e a situação é difícil.

Ainda assim, os professores não pretende voltar:

- Os timorenses estão apavorados com a possibilidade de os estrangeiros abandonarem o país e a reconstrução ser interrompida. Agora, mais do que nunca, precisamos ficar - diz Tarcísio Botelho, também professor da Capes.

A escalada da violência em Díli foi contida ontem com a presença ostensiva de mais de 2 mil soldados australianos e malaios da Força Internacional, que tentam acabar com o confronto armado entre soldados leais ao governo e ex-militares amotinados que se refugiaram nas montanhas na periferia.

Fontes ligadas ao presidente afirmaram que a cúpula do governo não encontrou um consenso sequer sobre como garantir a segurança neste momento de crise. Gusmão defenderia o desarmamento de toda a polícia e dos soldados, deixando para as forças internacionais o controle da segurança até que um plano de ação seja criado. Alkatiri, por sua vez, seria contra a presença dos soldados estrangeiros e quer que a polícia e soldados leais ao governo patrulhem as ruas.

Em Lisboa, o chanceler português, Diogo Freitas do Amaral, disse ter recebido informações que apontam para um acordo entre Gusmão e Alkatiri, que poderia incluir a remodelação do governo. Ele acrescentou que seria "uma solução da unidade" e descartou a renúncia do primeiro-ministro. Analistas apontam como provável a saída do ministro da Defesa, Roque Rodrigues.

Segundo o jornal espanhol "El Pais", o prêmio Nobel da Paz de 1996 e chanceler José Ramos-Horta será anunciado hoje como um superministro, acumulando a pasta da Defesa. Caberia a ele a tarefa de formar um novo Exército.