Título: Rio, quadro volátil
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 31/05/2006, O País, p. 3

Entre os estados mais importantes da federação, nenhum apresenta um quadro eleitoral tão indefinido, nesta altura do campeonato, quanto o Rio. O candidato que está à frente nas pesquisas, o senador Sérgio Cabral Filho, está preso ao desenlace da luta interna no PMDB pela candidatura própria. O segundo colocado, bispo Crivella, depende desesperadamente de tempo na TV. Em terceiro lugar está a deputada Denise Frossard, que também está com seus movimentos subordinados ao lançamento da candidatura presidencial de Roberto Freire pelo PPS. Os demais ainda não decolaram.

Cabral Filho terá um palanque cobiçado por qualquer candidato a presidente. Tem os maiores índices nas pesquisas, seu partido tem a maioria dos prefeitos, deputados federais e estaduais do estado e ainda o considerável espólio de votos de Garotinho, não apenas no Estado do Rio mas Brasil afora. No entanto, ele está impedido de fechar alianças enquanto o PMDB não decidir sobre a candidatura Pedro Simon-Garotinho e tomar um rumo definitivo na disputa nacional. Pior ainda, o partido marcou sua convenção para o último dia do prazo legal, 30 de junho. Cabral admite que está amarrado:

- Eu, que defendi ardorosamente a candidatura própria no momento adequado, agora terei de esperar por uma definição até o dia 30. De fato isso me cria uma insegurança política e jurídica.

Se a candidatura Simon for descartada, Cabral pessoalmente tem trânsito para negociar seu apoio tanto a Geraldo Alckmin quanto a Lula (que tem emissários em campo acenando com a solução de alguns problemas do estado). Mas entre o candidato e o presidente existe Garotinho. Por isso é mais provável que seu palanque abrigue o tucano.

Crivella teve 18% de preferência na última pesquisa Datafolha mas terá um tempo mínimo de televisão se ficar apenas com seu insignificante PRB. Tem pedido a seus aliados no governo federal que o ajudem a construir uma aliança com o PTB e/ou o PL.

O prefeito Cesar Maia trabalha por uma aliança entre seu PFL e o PSDB com o PPS de Denise Frossard. Há pedras no caminho. Por força da verticalização, se Freire for candidato a presidente, Denise não poderá ter o apoio do PFL, que no plano nacional será aliado do PSDB. E embora sua candidatura não tenha dado sinais de decolagem, o deputado tucano Eduardo Paes não parece disposto a abdicar dela em favor da aliança. O candidato de Cesar, Eider Dantas, também parece destinado a não vingar.

O candidato petista Vladimir Palmeira, embora tendo um bom tempo de televisão e uma boa candidata ao Senado, a deputada Jandira Feghali, continua entre os lanterninhas nas pesquisas eleitorais.

Para um estado como o Rio, que anseia por uma construção político-eleitoral forte, ampla e estável, que lhe permita enfrentar seus imensos problemas - com destaque para os de segurança, que se confundem com os urbanos - não é boa esta indefinição que leva ao improviso. Ela dificulta a construção das melhores e mais viáveis alianças para governar o Rio.