Título: MINISTRO DIZ QUE CORTARÁ PONTO DE GREVISTAS DO INSS
Autor: Jailton de Carvalho e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 31/05/2006, O País, p. 5

BRASÍLIA. Iniciada ontem, a greve de 72 horas de funcionários do INSS atingiu, segundo a categoria, 75% dos servidores que trabalham nos postos em todo o país, prejudicando milhares de aposentados e pensionistas. O Ministério da Previdência não confirmou esse número, mas anunciou que vai cortar o ponto de quem não foi trabalhar.

Para o ministro da Previdência, Nelson Machado, a greve é inaceitável. Segundo ele, o governo está cumprindo à risca o acordo que fez com a categoria ano passado e, portanto, não há motivo para protestos.

Ao ser perguntado sobre o que pretendia fazer em relação aos grevistas, respondeu:

- É simples, corta o ponto e desconta (do salário). A lei é clara e eu cumpro a lei.

Mais tarde, o ministro reafirmou a decisão em nota.

João Torquato, um dos coordenadores da Federação Nacional dos Sindicatos dos Previdenciários, disse que a entidade programou uma greve de três dias para pedir que o governo cumpra e até amplie o acordo firmado em setembro do ano passado com a categoria. Segundo ele, até agora o governo não enviou ao Congresso Nacional o projeto que prevê um reajuste de 47,11% para os servidores parcelado em 12 vezes. O pagamento do aumento salarial estaria previsto para começar em março e se prolongaria até 2011.

- Queremos ver se dá para diminuir esse prazo também - disse Torquato.

Os servidores pedem ainda reajuste de 7,5% da gratificação para assistência à saúde.

Federação não informa quantos postos fecharam

Ministério diz que só hoje terá balanço da paralisação

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A Federação Nacional dos Sindicatos dos Previdenciários não soube informar quantas agências do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ficaram fechadas ontem devido à greve, mas João Torquato, um dos coordenadores da federação, disse que a tendência é aumentar hoje a adesão dos funcionários ao movimento.

O Ministério da Previdência disse que só a partir de hoje terá um balanço completo da paralisação.

- Pelo que sabemos, muitas agências fecharam - disse um servidor do ministério. As agências são responsáveis pela concessão e pela revisão de aposentadorias e pensões, entre outros serviços.

O ministro da Previdência, Nelson Machado, negou que esteja havendo atraso na implementação do acordo com os previdenciários.

- Estamos dentro do combinado - disse Machado.

Segundo o ministro, no acordo do ano passado ficou acertado com os trabalhadores que o plano de carreira estaria pronto no fim de junho para valer a partir do primeiro trimestre de 2007. Machado disse, ainda, que a paralisação pegou o governo de surpresa, que não teria sido comunicado pelas centrais sobre a mobilização ou recebido qualquer carta dos sindicalistas sobre reivindicações da categoria.

Em São Paulo, espera em vão na fila do posto

Em São Paulo, trabalhadores que acordaram bem cedo para pedir benefício ou marcar perícia médica enfrentaram em vão uma longa fila em frente ao posto do INSS em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade.

Clécio Soares da Silva, de 32 anos, foi o primeiro a chegar à agência, às 5h de ontem. Ele queria pedir auxílio-doença e não sabia que o INSS estava em greve.

- Quando é para descontar a Previdência no salário não tem atraso, mas na hora de ser atendido é esse transtorno - reclamou Clécio.

A vendedora Antonieta Alves de Andrade, de 48 anos, foi tentar marcar perícia médica no posto de Pinheiros, e também não sabia sobre o movimento grevista.

- Só perdi tempo vindo aqui - criticou Antonieta.

"Podemos fazer nova greve por tempo indeterminado"

No posto de Santo Amaro, na Zona Sul, o atendimento foi parcial para quem já tinha serviços pré-agendados. O motorista Flávio Rogério de Lima, de 40 anos, não conseguiu pedir a prorrogação do auxílio-doença no posto Santa Marina, que permaneceu fechado.

- O atendimento no INSS só piora - disse.

Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Estado de São Paulo (Sinsprev), José Rubens Decares, 85% dos postos da capital e Grande São Paulo fecharam ontem no primeiro dia do movimento.

- As conversas com o governo não avançaram ontem e poderemos fazer uma nova paralisação por tempo indeterminado - disse.