Título: Alckmin busca apoio até de partido do mensalão
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 31/05/2006, O País, p. 8

Na primeira reunião com Conselho Político, tucano decide estratégia nos estados e diz que baterá mais forte em Lula

BRASÍLIA Com as desavenças entre PFL e PSDB dadas por encerradas, ao menos por enquanto, o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, decidiu com seus aliados quais ações serão adotadas em junho para que ele chegue ao início oficial da campanha, em 5 de julho, com uma diferença menor em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, hoje em mais de 20 pontos percentuais.

Na primeira reunião do Conselho Político, ontem, outro ponto discutido por tucanos e pefelistas foi a necessidade de aprofundar as alianças nos estados, atraindo partidos como o PPS e até siglas envolvidas no escândalo do mensalão, como o PP. No PMDB, a idéia é investir em líderes regionais, como o ex-governador Jarbas Vasconcelos, em Pernambuco. Sobre a investida por apoios nos estados, Alckmin deixou claro que os mensaleiros não serão descartados:

- A maioria desses partidos tende a não ter candidatos. Eles têm deputados e quadros muito bons e queremos sim o seu apoio. O PP do Rio Grande do Sul, por exemplo. Vamos crescer muito nesses palanques estaduais.

Ações contra Lula por abuso da máquina

Hoje os dois partidos, PFL e PSDB, oficializam a chapa Alckmin e José Jorge (PFL-PE). No ato o PFL divulgará uma agenda mínima com pontos que pretende ver incluídos no programa de governo tucano.

Os dirigentes concordaram que, além de intensificar ações judiciais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Lula por abuso da máquina, Alckmin deverá em junho percorrer 80 cidades médias, consideradas pólos irradiadores de notícias. Também deve ser reforçada a campanha no Sul e no Sudeste, para que Alckmin não perca seu capital político para Lula.

A idéia é ser firme no debate com Lula e o PT. No entanto, o discurso mais agressivo será dosado: somente acontecerá onde Alckmin já é bem conhecido, como em São Paulo. Estrategistas da campanha consideram que se o tucano for muito agressivo com Lula onde o presidente tem grande apoio, o seu índice de rejeição pode aumentar.

- Agora é sebo nas canelas, vamos à luta. Estou absolutamente zen, animado com o trabalho agora que as coisas começam para valer. Estamos unidos pelo Brasil - disse Alckmin, após a reunião que contou com os principais líderes dos dois partidos.

Embora diga que a agressividade dos ataques ao governo tem de ser bem dosada, dependendo do estado, ele mesmo subiu o tom das críticas. Afirmou que, se Lula se reeleger, o país vai continuar com "um governo autoritário, sem espírito republicano". Anteontem, no programa de TV do PSDB em São Paulo, Alckmin disse que não é um governante que convive com a corrupção na sala ao lado. Ontem avisou que pode bater ainda mais forte:

- Isso é só o começo.

Na reunião do Conselho Político, houve uma preocupação de todos de não gerar mais tensão nem alimentar o chamado fogo amigo. O líder da Minoria da Câmara, José Carlos Aleluia (BA) alertou para a necessidade de todos passarem a imagem de confiança na vitória de Alckmin, principalmente no Nordeste.

Outra preocupação é distensionar o clima

A preocupação de todos era distensionar o clima entre o presidente do PSDB Tasso Jereissati (CE) e o líder do PFL Rodrigo Maia. Coube ao líder pefelista falar das dificuldades das alianças nos estados. Por seu lado, Tasso tomou a iniciativa de quebrar o gelo, ao chamar Rodrigo para tirar fotografias ao seu lado e perguntar se estava tudo bem com ele.

Rodrigo, apesar de ter considerado o gesto de Tasso sincero, assumiu que seu grupo político no Rio está fechando uma grande frente para apoiar a candidatura de Denise Frossard (PPS) ao governo contra o tucano Eduardo Paes e alertou para o risco de Alckmin ter dois palanques nos estados. Também sugeriu que o candidato à Presidência invista numa aproximação com o candidato do PMDB no Rio, Sérgio Cabral Filho. O deputado disse que não adianta ter uma boa aliança nacional se não forem garantidos apoios nos estados.

- Essas divergências fazem parte dos problemas nos estados . É difícil compatibilizar os problemas em 27 estados com a aliança nacional. Pode ter aqui e ali uma insatisfação, uma rusguinha. Isso sempre vai acontecer, são muitos atritos para resolver - disse Tasso.

Segundo o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), uma das estratégias é mesmo centrar forças onde Alckmin tem imagem consolidada.

- O Nordeste é importante mas, para influenciar lá, primeiro tem que crescer bem nessas áreas de Sul, Sudeste e Centro-Oeste - disse Jutahy.

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Tucano defende ações de seu sucessor em SP

'Se Lembo não tivesse sido firme, o Brasil caminharia para uma situação de Colômbia'

BRASÍLIA. Motivo de divergências e troca de farpas entre os próprios aliados, a ação do governador de São Paulo, Claudio Lembo, em reação aos ataques da facção criminosa que controla os presídios do estado foi defendida ontem de forma contundente pelo candidato tucano, Geraldo Alckmin, na primeira reunião do Conselho Político. Além de defender sua própria política de segurança, Alckmin disse que Lembo precisou agir com firmeza para evitar um descontrole na escalada dos ataques em todo o país.

Desmentindo notícias sobre a redução do número de policiais em sua gestão, disse que assumiu o governo com um contingente de 107 mil policiais e o elevou para 130 mil.

- Se o governador Cláudio Lembo não tivesse sido firme, o Brasil caminharia para uma situação de Colômbia, com as Farc. A reação dos marginais em várias ocasiões foi justamente uma resposta à reação e ao enfrentamento ao crime organizado - disse Alckmin.

Mas a iniciativa de dar explicações sobre a crise da segurança em São Paulo não foi bem recebida por alguns dos integrantes do conselho da campanha. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), disse que esse é um tema delicado e por isso é preciso discutir sobre a melhor forma de abordá-lo publicamente.

- Neste momento, a principal questão é atacar a omissão do governo Lula. Tem que ver direito como entrar nesse tema. Do que adianta números e indicativos positivos se a imagem que ficou é ruim? - disse, referindo-se à onda de ataques: - Tem que mostrar que o Lula só agora vai inaugurar o primeiro presídio dos muitos prometidos no inicio do governo.

Atrito com outro pefelista

Em São Paulo outro pefelista criou novo atrito com o candidato tucano. O deputado estadual José Caldini Crespo, presidente da Comissão de Orçamento da Assembléia, em uma entrevista ao site "Carta Aberta", disse que houve 973 casos de corrupção no governo Alckmin analisados pelo Tribunal de Contas do Estado. E que tomou a iniciativa de enviá-los ao Ministério Público. O caso foi minimizado pelos tucanos.

- Se tem irregularidades, tem que apurar - limitou-se a dizer Alckmin. (Maria Lima)