Título: Acusados de atentado contra bombeiro são presos
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 31/05/2006, O País, p. 11

Criminosos admitem ter recebido ordens para atacar; entre eles há uma peruana que seria ligada às Farc

SÃO PAULO. Duas semanas depois dos ataques da facção criminosa em São Paulo - que resultaram em 160 assassinatos de policiais, criminosos e cidadãos comuns - a polícia prendeu um dos acusados de fornecer armas para a organização criminosa e outros dois jovens que mataram um bombeiro depois de terem recebido ordens dos chefes da quadrilha.

Com base em denúncia anônima, a polícia prendeu dois acusados de participar do ataque contra uma unidade do Corpo de Bombeiros no bairro da Luz, região central de São Paulo, no último dia 13. Os criminosos admitiram ter recebido um dia antes ordens dos chefes da facção para disparar contra bases policiais. No atentado, o bombeiro João Alberto da Costa, de 40 anos, foi morto com um tiro no peito.

Foram presos Carlos Santos Portugal, de 30 anos, o Nego Peba, e Alex Gaspar Cavalheiro, de 27 anos, o Gordinho. Com eles, a polícia prendeu Vânia Marques, acusada de traficar drogas na região.

Dias atrás, a polícia já havia prendido Eduardo Aparecido Vasconcelos, de 27 anos, conhecido como Mascote, e a peruana Juliana Custódio, de 23 anos. Juliana foi presa em Piracicaba, no interior de São Paulo. Os dois também teriam participado do atentado à sede dos Bombeiros. Segundo a polícia, a peruana disse aos comparsas que tinha relações com as Farc, as forças revolucionárias da Colômbia.

Criminosos não admitem ter atirado no bombeiro

Todos admitiram ter participado dos ataques, mas nenhum assumiu a responsabilidade pelo tiro no bombeiro. Com eles, além de celulares, foi apreendido um revólver calibre 38. O bombeiro foi morto com um tiro do mesmo calibre. Um exame da arma poderá comprovar se ela matou João Alberto da Costa.

Segundo o delegado, José Carlos Arruda, do Deic, todos admitiram que as ordens para atacar, passadas por telefone, partiu de chefes da facção.

- Um joga a culpa no outro sobre quem atirou - disse o delegado, interrompido pelos toques simultâneos dos quatro aparelhos de celulares apreendidos com os criminosos.

A polícia também prendeu ontem Hugo Bezerra da Silva, de 27 anos, acusado de fornecer fuzis e metralhadoras para a organização. Para os investigadores, ele acompanhava, por rádios comunicadores, a freqüência da polícia e indicava os melhores locais para os ataques.

Todos tinham antecedentes criminais. Silva já cumpriu pena em Presidente Bernardes.

Criminoso já fora socorrido por bombeiros

SÃO PAULO. Alguns criminosos presos ontem pelo ataque à unidade do Corpo de Bombeiros no Centro de São Paulo - onde trabalhava o soldado João Alberto da Costa, de 40 anos, morto com um tiro no peito - teriam ficado divididos entre assassiná-lo ou não.

Dias antes do início dos ataques, Eduardo Aparecido Vasconcellos, de 27 anos, o Mascote, sofreu um acidente de moto e foi socorrido por uma equipe de resgate do Corpo de Bombeiros, que o levou para o hospital. Ao ser preso, há uma semana, ele disse que, das quatro pessoas que pararam o carro em frente aos Bombeiros, duas não queriam atirar "contra quem salva vidas". Seus comparsas, Carlos Santos Portugal, o Nego Peba, e Alex Gaspar Cavalheiro, o Gordinho, que estavam com ele no carro no dia dos ataques, no entanto, dizem que a proposta de assassinar o bombeiro partiu de Mascote.

- Eles receberam ordens para matar policiais e o Mascote decidiu matar bombeiros, mas dentro deste grupo teve gente que não concordou. Ele (Mascote) nega a autoria dos disparos. Eles acreditam que foi uma ação precipitada do Mascote, inclusive porque ele teria sofrido um acidente recentemente e sido socorrido por um bombeiro - disse ontem José Carlos Arruda, delegado do Departamento de Investigações Criminais (Deic).

A polícia apreendeu ontem no quarto da pensão onde estavam Nego Peba e Gordinho um revólver calibre 38. O tiro que matou o bombeiro foi disparado por uma arma do mesmo calibre.