Título: BOLÍVIA QUER DOBRAR PREÇO DO GÁS PARA O BRASIL
Autor:
Fonte: O Globo, 31/05/2006, Economia, p. 26

Presidente da YPFB culpa Petrobras por falta de diesel no país e acusa empresa de sabotagem

LA PAZ e RIO. O presidente da estatal boliviana de petróleo YPFB, Jorge Alvarado, responsabilizou a Petrobras pelo desabastecimento de diesel na Bolívia há alguns dias e acusou a companhia de uma suposta sabotagem. Sobre o preço do gás, o ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz, disse que o país vai tentar fechar um acordo para vender o produto por US$7,50 o milhão de BTUs (unidade térmica britânica). O valor é o dobro do preço atual.

O Brasil importa, em média, 25 milhões de metros cúbicos diários a US$3,80 o milhão de BTUs. O ministro disse que as expectativas bolivianas têm base no preço pago pelos consumidores brasileiros por carburantes poluentes e nos US$7 que o Chile está disposto a pagar pelo gás da Indonésia.

- Perguntamos aos brasileiros se não é correto, de nossa parte, pedir a eles também o preço de mercado, do mercado que eles têm com seu gasóleo poluente - disse Soliz, explicando que o gás de seu país substitui um produto chamado gasóleo. - Neste momento, os brasileiros estão pagando US$7,50 pelo gasóleo.

O ministro boliviano disse que a negociação será difícil:

- As conversas entre La Paz e Brasília estão paralisadas neste momento - afirmou Soliz.

Sobre o diesel, o vice-ministro de Comercialização e Industrialização de Hidrocarbonetos, Willian Donaire, disse que a Bolívia analisa a possibilidade de aplicar sanções à Petrobras, que considerou responsável pela escassez do produto no país nos últimos dias. O presidente da YPFB qualificou a atitude da companhia brasileira de sabotagem:

- Interpreto a atitude assumida pela Petrobras como um ato de sabotagem ao país.

A nacionalizada Petrobras Bolivia de Refinación, filial da empresa brasileira, é uma das encarregadas de importar o combustível, que é subsidiado na Bolívia, mas nos últimos dias deixou de fazê-lo, disse o presidente da YPFB.

Alvarado reconheceu que a demora no desembolso do subsídio estatal pode ter obrigado a Petrobras a suspender a importação, mas disse que a empresa já esperou até quatro meses para cobrar do Estado.

O Ministério da Fazenda da Bolívia divulgou ter feito ontem o pagamento de 25,2 milhões de bolivianos (US$3,18 milhões) para cobrir a diferença entre os preços do combustível no mercado interno e seu valor internacional às importadoras de diesel do país. O vice-ministro do Tesouro e do Crédito Público, Oscar Navarro, disse que os recursos liberados correspondem ao pagamento do diesel até 30 de abril.

Segundo a nota, até a próxima semana será liberado o valor correspondente à primeira quinzena de maio. A previsão da Bolívia é de um gasto de US$100 milhões com o subsídio em 2006. Até agora foram liberados US$51 milhões.

A Petrobras não comentou o assunto.

COLABOROU Juliana Rangel, do Globo Online