Título: BR MANTERÁ ACORDO COM VARIG ATÉ TERÇA-FEIRA
Autor: Érica Ribeiro/Geralda Doca/Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 31/05/2006, Economia, p. 29

Onze empresas, entre elas Gol e TAM, retiraram ontem o edital do leilão da companhia aérea, marcado para dia 5

RIO, BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. A BR Distribuidora deu mais fôlego à Varig e renovou até terça-feira - dia seguinte ao do leilão da companhia aérea - o acordo de fornecimento de combustível. As bases são as mesmas acertadas no primeiro acordo, no dia 23 de maio, com o repasse, pela Varig, de recebíveis de cartões de crédito e valores a receber de agências de viagem à estatal.

No primeiro dia de acesso ao edital do leilão da Varig, marcado para o dia 5, no Rio, onze interessados estiveram na sede da companhia, atrás do aeroporto Santos Dumont, até o início da noite. Entre os interessados estão TAM, Gol, BRA,Webjet, Ocean Air e AeroLB (empresa da TAP com investidores brasileiros e de Macau).

Segundo fontes ligadas à Varig, além da retirada da versão completa do edital, as empresas interessadas também receberam informações sobre como proceder para depositar o valor de R$60 mil em uma conta bancária que permitirá o acesso ao data-room com dados da empresa, que será aberto hoje, às 8h30m. Os interessados terão acesso até as 18h de domingo. Salas individuais foram montadas para garantir a privacidade dos potenciais investidores.

Varig confia em resultado favorável em Nova York

Na avaliação de Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal (responsável pela reestruturação da Varig), o número de interessados no data-room poderá chegar a 15. Segundo ele, além das onze empresas que retiraram o edital, mais quatro, cujos nomes ele preferiu manter em sigilo, fizeram contato com a Varig.

Gomes está otimista também quanto à audiência que acontecerá hoje na Corte de Falências de Nova York. Para ele, o fato de a Varig já ter marcado o leilão e a procura por interessados dão segurança à companhia para argumentar com o juiz Robert Drain. Hoje, termina a validade da liminar que impede que empresas de leasing retomem aviões da Varig por falta de pagamento.

- Não tenho dúvidas de que a audiência terá um desfecho favorável. Está tudo caminhando bem, com o leilão e com a BR - afirmou Gomes.

O executivo explicou, ainda, que se não houver interessados numa primeira rodada do leilão o preço mínimo - US$700 milhões pela Varig doméstica ou US$860 milhões pela operação inteira - pode baixar. Os lances, no entanto, não poderão ser tão inferiores, ou serão considerados "preço vil" - o patamar será determinado pela Justiça.

O edital desagradou aos credores públicos - Infraero, BR Distribuidora e Banco do Brasil - que trabalham contra o tempo para mudar o texto. A principal queixa diz respeito a essa possibilidade de a Varig ser vendida por menos do que o preço mínimo original. A insatisfação foi manifestada ontem em audiência reservada na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.

Segundo um interlocutor do governo, é preciso definir melhor o conceito de "preço vil":

- Até por uma questão ética, temos que melhorar o edital. Do jeito que está significa uma renúncia a nossos créditos - disse essa fonte, acrescentando que caso não haja interessados é melhor que a Justiça decrete a falência da companhia aérea.

Segundo outras fontes do governo, há apreensão em Brasília sobre o resultado da audiência em Nova York. O Ministério da Defesa e a Casa Civil serão informados imediatamente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) da decisão do juiz Robert Drain.

Rio Grande do Sul pagará à Varig em 90 meses

O governo do Rio Grande do Sul fechou na noite de ontem um acordo com a Varig, para pagamento em 90 meses, depois de dois anos de carência e com um desconto que poderá variar entre 25% e 30%, dos créditos de ICMS relativos ao recolhimento feito entre 1989 e 1994. Em 1996, esse recolhimento foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a Varig, os créditos somam R$111 milhões, mas o governo gaúcho ainda não fechou o valor e compromete-se a apresentar seus cálculos dentro de dez dias.

- O governador Germano Rigotto dirigiu na noite de hoje (ontem) ao presidente da Varig um ofício em que descreve a ação, o valor indicado pela Varig e que o governo do estado ainda não determinou seu valor, mas que ele está sendo levantado. Essa correspondência será levada pela Varig à Justiça de Nova York, para demonstrar a existência de créditos capazes de fazer frente às dívidas de curto prazo com fornecedores no exterior - informou o secretário do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul, Luiz Roberto Andrade Ponte.

Mas a diretoria da Varig levará apenas uma certidão da Procuradoria da Fazenda Estadual, na qual Rigotto reconhece o crédito e diz que num prazo de dez dias fechará o valor devido pelo estado.

Decidido o valor por parte do governo gaúcho, já há o entendimento de que o pagamento deverá ser parcelado em 90 meses, com dois anos de carência e o desconto de 25% a 30%. Segundo Ponte, será feito em créditos tributários, que poderão ser negociados no mercado.

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