Título: PROFESSORES BRASILEIROS ESTÃO DIVIDIDOS
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Fonte: O Globo, 31/05/2006, O Mundo, p. 31

Dezessete dos 30 que trabalham no país decidem não embarcar para a Austrália

PEQUIM. Surpresos com a decisão do Ministério da Educação de determinar a retirada de 30 professores brasileiros do Timor Leste, 17 profissionais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) decidiram não embarcar ontem no avião militar australiano que os levaria a Darwin, na Austrália.

Os professores fazem parte da missão internacional que ajuda a reconstruir o sistema educacional. A falta de informações claras do governo brasileiro sobre o destino da missão e o embarque do coordenador dos professores em Díli, Fernando Spagnolo, ontem para Darwin, com outros seis brasileiros - deixando no país a maioria dos professores - provocou indignação.

- Estamos sem saber como vamos sobreviver em Darwin, onde ficaremos e se voltaremos ao Timor. O coordenador da missão embarcou para a Austrália sem dar satisfação. Soubemos que vamos ficar 15 dias em Darwin, mas com que dinheiro? - disse o representante dos professores da Capes, Raimundo Santos de Castro.

Dez dos 17 professores estão reunidos no Hotel Orchard, em Díli, e amanhã pretendem ir à embaixada brasileira pedir mais explicações.

- Soubemos que outro avião militar australiano sai amanhã (hoje) para Darwin, mas achamos uma vergonha abandonar os timorenses na hora em que mais precisam - disse o professor Tarcísio Botelho. - Só vamos sair daqui com um comunicado oficial do governo brasileiro.

Os professores enviaram ontem, por e-mail, uma carta ao ministro da Educação do Brasil, Fernando Haddad, em que pedem para ficar.

Professores dizem que Capes informou que não haverá retorno ao Timor Leste

Pouco antes de embarcar, Spagnolo afirmou que a ida para a Austrália é provisória, por no máximo 15 dias, até que a situação se acalme.

- Estão todos exaltados, mas o governo brasileiro vai apoiar os professores em Darwin com uma diária de US$150. Depois disso, tenho certeza de que todos voltaremos. É uma situação emergencial.

Os professores em Díli, no entanto, afirmam que a assessora da área de cooperação internacional da Capes, Maria Luiza Pereira de Carvalho, disse por telefone que o embarque para Darwin é obrigatório e sem retorno. Há cerca de 150 brasileiros no Timor Leste. O embaixador em Díli, Antonio de Souza e Silva, afirmou que o governo decidiu não evacuar todos porque não considera a situação emergencial a esse ponto.

Embora ofereça transporte e hospedagem em Darwin para os 30 professores bolsistas que quiserem deixar o Timor Leste, o Itamaraty não tem como garantir que suas casas não sejam saqueadas durante sua ausência, informaram, em Brasília, fontes do Ministério da Educação.

- Muitos estão no Timor há mais de um ano e temem voltar e não encontrar mais nada em suas residências - revelou uma fonte do MEC.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, duas semanas é o tempo estimado pelo governo brasileiro para que a situação se normalize.

A informação do Itamaraty é de que existem três categorias de brasileiros no Timor: os missionários, que já avisaram que vão permanecer; os funcionários de organismos internacionais, que seguirão a orientação das instituições em que trabalham; e os professores da Capes, que são da responsabilidade do Estado.

COLABOROU: Eliane Oliveira, de Brasília