Título: AIDS: INCIDÊNCIA DE NOVOS CASOS SE ESTABILIZA
Autor:
Fonte: O Globo, 31/05/2006, Ciência e Vida, p. 34

Relatório anual do Unaids mostra que os números da epidemia podem começar a diminuir a partir de 2015

NOVA YORK. A incidência de novas infecções pelo HIV parece ter, finalmente, se estabilizado depois de 25 anos de história da Aids. Ainda assim, a pandemia terá um profundo impacto nas sociedades por muito tempo, como aponta o relatório anual do Programa de Aids da ONU (Unaids), divulgado ontem em Nova York. Segundo especialistas, uma reversão nos números da epidemia pode começar a ocorrer a partir de 2015.

"De uma maneira geral, a taxa de incidência de HIV - a proporção de pessoas infectadas pelo vírus - parece ter atingido o ápice no fim dos anos 90 e se estabilizado depois, a despeito do aumento do número de novos casos em alguns países", aponta o relatório. Ainda assim, o documento alerta que não há espaço para condescendência: "Sabemos o que é preciso fazer para deter a Aids. Precisamos agora da vontade para que isso aconteça."

Segundo os especialistas, os progressos na luta contra a epidemia estão relacionados à crescente conscientização da população mundial para o problema, ao maciço aumento das verbas para prevenção e tratamento (foram US$8,3 bilhões em 2005) e ao maior acesso às drogas nos países em desenvolvimento. Segundo o Unaids, 1,3 milhão de pessoas tinham acesso aos remédios em 2005 contra apenas 240 mil em 2001. Mas os números ainda estão muito abaixo da meta de três milhões de pessoas estipulada pela Organização Mundial de Saúde.

O relatório aponta ainda grandes gargalos no combate da doença. A prevenção é um deles. Segundo o relatório, menos de uma em cada cinco pessoas tem acesso a preservativos, por exemplo. O diagnóstico é outro problema grave. Hoje, apenas uma em cada oito pessoas que querem fazer o teste tem acesso a ele.

A Aids já matou mais de 25 milhões de pessoas em todo o mundo desde 1981, quando a doença foi identificada. No mesmo período, foram contabilizadas 65 milhões de infecções pelo vírus HIV.

No ano passado, aponta o novo relatório, 2,8 milhões de pessoas morreram de Aids e 4,1 milhões foram contaminadas pelo HIV. Em 2003, o número de novas infecções tinha chegado a 4,8 milhões. Atualmente, estima-se que 38,6 milhões de pessoas vivam com o HIV - embora boa parte delas não saiba que é portadora do vírus.

Índia tem 5,7 milhões de infectados

Embora os números gerais sejam otimistas, há diferenças significativas quando se analisa a situação específica de cada país. A África Subsaariana ainda é a região mais afetada do mundo, onde vivem dois terços de todas as pessoas infectadas. E a epidemia na África do Sul, um dos países com o maior número absoluto de contaminados, não aponta sinais de declínio.

Ainda assim, alguns países africanos apresentam progressos significativos. A prevalência caiu em Quênia, Zimbábue e também em áreas urbanas de Burkina Faso. "Nos demais países da África Subsaariana as epidemias parecem estar se estabilizando", aponta o relatório.

A prevalência aumentou na China, na Indonésia e no Vietnã. A Índia superou a África do Sul como o país com o maior número absoluto de casos da doença, com 5,7 milhões de infectados.

Os principais pontos do relatório global

A PANDEMIA: Desde a descoberta dos primeiros casos de Aids, há 25 anos, 65 milhões de pessoas no mundo contraíram o vírus HIV. Vinte e cinco milhões morreram.

O HIV: Segundo o Unaids, 38,6 milhões de pessoas vivem com o vírus da Aids no mundo.

AS TENDÊNCIAS: A taxa geral de incidência parece ter chegado a um pico na década de 90 e então se estabilizado. Porém, a taxa de infecção continua a subir em muitas partes do mundo.

A MAIS ATINGIDA: A África Subsaariana continua a ser a região mais afetada, com 25 milhões de pessoas vivendo com o HIV.

A EXPANSÃO: A epidemia tem se espalhado particularmente depressa na Ásia. No fim de 2005, havia 8,3 milhões de pessoas com Aids no continente, mais de dois terços delas na Índia.

NÚMERO DE CASOS: A Europa Oriental e a Ásia Central também têm sofrido com a rápida expansão da epidemia. Em 2005 mais 220 mil pessoas contraíram o HIV. Há 1,5 milhão de casos na região. Na América Latina, ocorreram 140 mil novos casos de infecção em 2005, levando para 1,6 milhão o número total de casos nos países latino-americanos.

ORIENTE MÉDIO: Registra números baixos se comparado ao resto do mundo. Em 2005 ocorreram 64 mil novos casos de infecção. Hoje, há 440 mil pessoas vivendo com o vírus no Oriente Médio. A prevalência entre adultos é muito baixa, menos de 0,1% da população. No entanto, o Unaids destaca que a epidemia cresce em vários países, em especial em Irã, Argélia, Líbia e Marrocos.