Título: Com Quércia no Planalto
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O País, p. 3

Lula recebe peemedebista no Palácio e oferece a ele indicar o vice de sua chapa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem de manhã, no Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB). Lula e o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, sabem que é praticamente impossível uma coligação formal com o PMDB mas ofereceram novamente a candidatura a vice na chapa do presidente para demonstrar que querem, de fato, o partido governando junto a partir de janeiro, caso o petista seja reeleito. Logo depois do encontro, Tarso almoçou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP) e o deputado Jader Barbalho (PMDB-PR).

- Nós queremos o PMDB com Lula, com ou sem coligação. Queremos o PMDB para governar o Brasil em conjunto, em cima de um programa definido, para assumir responsabilidades iguais e compartilhadas - disse Tarso na reunião.

Mesmo reconhecendo as dificuldades de uma coligação nacional ou estadual com o PT - na medida que estão avançadas as conversas para uma aliança em São Paulo com o PSDB - Quércia saiu do encontro com Lula dizendo que foi uma excelente conversa e que o PMDB deveria analisar a proposta. Deu declarações favoráveis à candidatura própria mas reconheceu que a proposta de Lula é tentadora.

- Temos de levar em conta que o presidente é um candidato em condições de ser reeleito. Evidentemente que há interesse político do PMDB em avaliar essa questão com muita simpatia - disse Quércia, indo conversar em seguida com o pré-candidato do partido à Presidência, senador Pedro Simon (RS), e com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP).

Mercadante também oferece vice

Mais tarde, Tarso disse que no almoço os três peemedebistas deixaram claro que o partido apoiará a candidatura de Lula à reeleição, independentemente de uma coligação formal, e que três pontos foram tratados:

- Primeiro, é necessário para a governabilidade do país uma aliança sólida, uma espécie de compromisso histórico do PT com o PMDB para formar uma frente de centro-esquerda para governar. Segundo, que essa frente teria que ser com base em programas. O terceiro ponto é sintetizada na seguinte frase: PMDB com Lula, com ou sem coligação - disse Tarso.

No encontro de Lula com Quércia, o candidato do PT ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante, disse que também quer um vice do partido em sua chapa. Quércia disse que sem aliança nacional não seria possível um acordo em São Paulo.

Mesmo sem aliança, Renan, Sarney e Jader disseram ao ministro Tarso que o PMDB deve apoiar a reeleição de Lula em 19 ou 20 estados. Uma outra parcela do PMDB deverá apoiar o candidato tucano, Geraldo Alckmin.

- Isso (apoio político) já foi dito ao presidente Lula há meses. Não existe a possibilidade de coligação formal por causa da verticalização e das circunstâncias políticas regionais - disse Renan Calheiros.

Até defensores da candidatura própria acreditam que é possível o PMDB participar de um governo de coalizão no caso de Lula ter outro mandato. O próprio Pedro Simon considera que o partido poderia, depois das eleições, participar de uma aliança:

- A participação do PMDB num governo de coalizão organizado pelo presidente Lula é viável.

Os governistas do PMDB, no encontro com Tarso, descartaram a indicação de um vice de outro partido para a chapa de Lula. Argumentaram que a escolha tem que ter peso eleitoral e que, nesse contexto, não se deve descartar um representante de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral. Esse entendimento foi interpretado como uma manifestação favorável à permanência de José Alencar.

COLABOROU Luiza Damé

MUDOU DE TOM

Houve um tempo em que Orestes Quércia era nazista para Luiz Inácio Lula da Silva. O peemedebista não fazia por menos - considerava o petista um fascista. O clima entre os dois era de permanente tempestade verbal ao longo da campanha presidencial de 1994. Quércia criticou o PT, disse que Lula era o candidato da direita - e levou troco pesado:

- Ele está usando métodos semelhantes aos utilizados pela Gestapo durante a Segunda Guerra Mundial - atacou o hoje presidente, referindo-se à polícia secreta de Adolf Hitler.

Num comício em junho daquele ano, Lula voltou à carga. Sobrou até para a vice de Quércia na chapa presidencial, Íris Resende:

- O Quércia disse que eu nunca administrei nem um caminhão de pipoca. Mas eu também nunca roubei as pipocas - bateu, falando depois da vice - Ela e seu marido (o então governador Íris Resende, de Goiás) deveriam dormir uma noite num daqueles pombais que construíram lá em Goiás.

Ontem não foi, entretanto, a primeira vez que a paz foi ensaiada entre Lula e Quércia. Dois anos antes da eleição de 1994, os dois articularam uma união para investigar o então presidente Fernando Collor. Em 2002, Quércia apoiou Lula.