Título: PSDB e PFL formalizam aliança em torno de Alckmin com ataques a Lula
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O País, p. 4

FH, Aécio, Serra e Cesar Maia não participaram da cerimônia em Brasília

BRASÍLIA. O PSDB e o PFL formalizaram ontem a chapa que disputará a Presidência da República com Geraldo Alckmin (SP) e José Jorge (PE) com duros ataques ao governo Lula. No ato de lançamento, num auditório da Câmara, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), fez o discurso mais agressivo contra o governo. Ele entregou ao tucano um documento com propostas para um programa de governo intitulado "Quatro anos perdidos, o Brasil não pode esperar mais quatro anos", que inspirou os discursos e poderá se tornar mote da campanha. O primeiro item da agenda pefelista, entretanto, defende a ampliação do Bolsa Família, o carro-chefe do governo e da campanha de Lula pela reeleição.

O clima ainda era de festa no auditório quando um tucano paulista chamou a atenção para pelo menos três ausências importantes do PSDB e do PFL: o ex-prefeito José Serra, o governador de Minas, Aécio Neves, e o prefeito Cesar Maia. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também não compareceu. Sem ser do Congresso, apenas o governador do Pará, Simão Jatene, foi.

Alckmin, em seu discurso, disse que daqui até outubro haverá uma grande reação nas ruas contra a omissão de Lula diante das denúncias de corrupção em seu governo.

- Por onde ando o povo me pergunta: mas como o presidente Lula está passando ao largo dessas denúncias todas? Há uma ira santa nas ruas que vai aflorar durante o processo eleitoral. Teremos um mutirão cívico para recuperar os princípios e os valores perdidos nesse governo - discursou Alckmin.

Bornhausen dá o tom dos ataques

O tom dos ataques foi dado no primeiro discurso, de Bornhausen. Ao resumir a agenda de propostas, disse que o Brasil tem pressa e não pode perder mais quatro anos com corrupção e incompetência. E que o povo não suporta mais esse governo ilusionista, "que o tempo todo faz parecer que é bom o que na verdade é péssimo".

- Todos os dias a gente ouve o brasileiro dizer não. Não à corrupção, não ao cinismo, não a esse projeto de governo, não ao acobertamento de assassinatos, não à submissão à Bolívia, não às invasões do MST. É preciso remover o presidente mais corrupto e incapaz da nossa História - atacou Bornhausen, dizendo aos tucanos que o PFL oferecia apoio integral e permanente para chegar à vitória.

Num tom mais ameno e brincalhão, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), mesclou ataques ao candidato petista com gracejos sobre as críticas em relação à falta de carisma e à aparência rústica do pernambucano José Jorge, vice de Alckmin. A maior parte do discurso de Tasso foi para ressaltar as qualidades e o perfil executivo e decidido do pefelista. E disse que José Jorge tem carisma sim.

- Não é só carisma. O Zé Jorge não é nenhum Brad Pitt, já foi na juventude, mas é um grande homem. E o Brasil é um país moderno, que independe de personalidades. Não queremos salvadores da pátria que nos levem pelas mãos como alguns líderes que estão aparecendo na América Latina. Não queremos Chávez, Morales nem Fidéis. Queremos homens sérios, com projetos duradouros e confiáveis para o país. O país está cansado de homens omissos, submissos, que mentem, de caras de paus. Esses (Alckmin e José Jorge) não são Brad Pitts mas são homens de coragem - discursou Tasso, provocando risos.

Emocionado com os elogios do tucano, José Jorge devolveu com igual bom humor. Disse que Deus os livrariam de ter que substituir Alckmin pela definição constitucional do cargo, que não fora indicado vice pelo PFL para vigiar o presidente e nem para defender interesses e pessoas. Afirmou que integrará a chapa como referência de moderação, jamais de enfrentamento e de violência.

- Para facilitar a otimização da minha participação na campanha, informo que minha especialidade profissional é engenheiro de operações. Quem sabe se a experiência de logística não me dará oportunidade de contribuir para a grande virada da candidatura Alckmin? - discursou José Jorge, ministro das Minas e Energia no governo Fernando Henrique, num ato falho ao concordar que a campanha tucana precisa de uma virada.

Alckmin diz que partido também conversa com PMDB

Alckmin criticou indiretamente o assédio feito pelo presidente Lula ao PMDB e disse que seu partido também está conversando com o PMDB, mas de forma institucional, através dos presidentes dos dois partidos. Alckmin mostrou que não desistiu de ter a aliança do PSDB e do PFL coligada com o PMDB.

- Acho que ainda há chance de uma coligação com o PMDB até a convenção. Vamos aguardar a decisão. Se o partido tiver um candidato, vamos respeitar. O Simon é um grande homem, de bem. Mas se puder ter coligação com o PMDB é claro que queremos sim.

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As propostas do PFL

A agenda de propostas do PFL, que o PSDB vai aproveitar no programa de governo do candidato Geraldo Alckmin a presidente, tem 12 pontos, que vão das reformas econômicas a mudanças na política externa. Como primeiro item está a defesa da manutenção e da ampliação do programa Bolsa Família, principal peça de campanha do governo Lula. Para justificar a prioridade para essa proposta, dentro da área de combate à miséria, os pefelistas argumentam que o programa teve origem no governo passado com o nome de Bolsa Escola. Algumas das propostas do PFL:

Manutenção, ampliação e aprimoramento do Programa Bolsa Família, o antigo Bolsa Escola.

Programa de renda mínima para os idosos (RMI), não contributivo.

Criação do Ministério da Segurança Pública, com a finalidade de coordenar e executar uma política nacional de segurança, e a criação da Força Especial do Exército, composta por um contingente aproximado de 70 mil soldados.

Prioridade ao ensino fundamental.

Implantação de programas de urbanização de áreas faveladas, à semelhança do Programa Favela-Bairro, adotado pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Redução do número de ministérios, além da extinção de pelo menos 50% dos cargos comissionados e profissionalização do aparelho do Estado.

Reforma fiscal que priorize o corte de gastos de custeio.

Redução e racionalização dos impostos.

Adoção do Simples Trabalhista, com o objetivo de formalizar empregos nas micro e pequenas empresas, por meio da redução de encargos trabalhistas.

'Botando fé nos destinos'

Tucanos e pefelistas descontraídos

BRASÍLIA. Durante o discurso do candidato Geraldo Alckmin, ninguém entendia tantos risos e tamanho entrosamento entre os novos companheiros de chapa que compunham a mesa do evento. A área de interesse, entretanto, passava longe dos ataques feitos ao governo Lula. A poucos metros dali, no plenário, a beleza clássica da socialite de Brasília Maria Pia Venâncio inspirou um bilhetinho escrito pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto(AM), repassado de mão em mão em meio a sorrisos e gestos de concordância.

A moça, chamada de camaleoa pelo senador tucano, é casada com o empresário Venancinho, conhecido na cidade por já ter agredido fisicamente uma ex-namorada. Depois de passar pelas mãos de Tasso Jereissati, Antonio Carlos Magalhães e de Agripino Maia, e pelos olhos de Rodrigo Maia, o bilhete foi escondido no bolso pelo presidente do PSDB. O texto de Virgilio dizia: "Concordemos que nosso partido é cafona, mas olhe quem está ali, de cara, linda, a Maria Pia Venâncio, botando a maior fé nos destinos do país". (M.L.)

"Teremos um mutirão cívico para recuperar os princípios perdidos neste governo"

GERALDO ALCKMIN , Candidato do PSDB a presidente

"É preciso remover o presidente mais corrupto e incapaz da nossa História"

JORGE BORNHAUSEN , Presidente do PFL

"O Zé Jorge não é nenhum Brad Pitt, já foi na juventude, mas é um grande homem"

TASSO JEREISSATI , Presidente do PSDB