Título: SANGUESSUGA: STF DEVE INVESTIGAR 15 DEPUTADOS
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O País, p. 5

Antônio Fernando envia ao Supremo lista de suspeitos de envolvimento com a máfia: 'São os primeiros', disse

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de 15 inquéritos contra 15 deputados suspeitos de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, a organização acusada de vender ambulâncias superfaturadas a prefeituras. No mesmo despacho, o procurador-geral pede a quebra do sigilo bancário dos deputados. Para Antônio Fernando, há indícios de que esses parlamentares teriam recebido propina para apresentar emendas ao Orçamento e, com isso, financiar a compra de ambulâncias em licitações fraudadas.

Mas a lista de políticos investigados não pára por aí. Por decisão de Antônio Fernando, a Procuradoria Regional da República da 1ª Região abriu procedimento para apurar o envolvimento de 64 prefeitos e ex-prefeitos de Mato Grosso e Minas Gerais com os sanguessugas. O procurador deverá pedir nos próximos dias a abertura de inquéritos também contra outros parlamentares suspeitos de envolvimento com as compras irregulares de ambulâncias e odontomóveis, entre outros equipamentos hospitalares destinados ao atendimento à saúde de famílias de baixa renda.

- Esses são os primeiros 15 pedidos de abertura de inquérito - disse Antônio Fernando, ao protocolar o pedido ao STF.

Livro-caixa apreendido tinha nome de parlamentares

O procurador pediu a abertura dos 15 inquéritos com base em documentos obtidos pela Polícia Federal e pelo procurador da República em Mato Grosso Mário Lúcio Avelar na primeira fase da Operação Sanguessuga. Entre os papéis está um relatório reservado com o conteúdo de gravações de conversas de empresários, assessores parlamentares e funcionários públicos acusados de integrar a máfia dos sanguessugas. Durante as conversas, eles combinam fraudes, acertam valores de propinas e citam nomes de deputados e senadores.

Antônio Fernando se baseou também num livro-caixa, apreendido na sede da Planam, empresa de Darci José Vedoin, apontado pela polícia com o o chefe da organização dos sanguessugas. No livro estão registrados nomes de vários parlamentares associados a cifras. Os investigadores suspeitam que Vedoin tenha registrado no livro os valores pagos a parlamentares nos últimos anos. O procurador-geral pediu a abertura de inquérito menos de um mês depois de receber as primeiras informações sobre as compras superfaturadas de ambulância.

Em depoimento à PF, a ex-assessora do gabinete do ministro da Saúde Maria da Penha Lino disse que pelo menos 170 parlamentares prestaram serviços aos sanguessugas. Ex-funcionária da Planam, Maria da da Penha era encarregada de apressar a tramitação de projetos da quadrilha no Ministério da Saúde.

Num segundo depoimento à Corregedoria, Maria da Penha disse que os chefes da organização tiveram contato com pelo menos 283 parlamentares. Com base nestas informações, a Corregedoria começou a investigar 16 parlamentares contra os quais pesavam as acusações mais graves. A Procuradoria-Geral não informou se existem coincidências de nomes entre a lista da Câmara e os parlamentares que Antônio Fernando considera necessário investigar. Os prefeitos serão investigados por uma força-tarefa composta por cinco procuradores regionais.