Título: REAJUSTE PARA SERVIDORES CAUSA POLÊMICA
Autor: Regina Alvarez/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O País, p. 8

Raul Velloso diz que aumento dado por Lula pode comprometer contas

BRASÍLIA. A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder aumento salarial a mais de 30 categorias do serviço público foi classificada de medida eleitoreira pela oposição. Mesmo criticando a iniciativa às vésperas das eleições, os líderes adiantam seu apoio a ela, sob o argumento de que os servidores do Executivo estão há anos com seus salários defasados. O especialista em contas públicas Raul Velloso considera que essa estratégia de conceder os maiores reajustes no fim do mandato, em um período de inflação baixa, comprometerá as contas do próximo governo.

"Considero 100% eleitoreiro e oportunismo do Lula"

O economista critica a falta de uma política para regular os reajustes no setor público e teme que essa estratégia de favorecer as carreiras que negociam com o governo abra espaço para novas demandas e novas concessões, com impacto ainda indefinido nas contas públicas.

- No tempo da inflação alta, os reajustes eram corroídos, mas agora a realidade é outra e esse aumento de despesas no final do mandato vai criar constrangimentos para o próximo governo - disse Velloso.

Já o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que durante o governo Fernando Henrique e nos três anos do governo Lula os servidores do Executivo foram maltratados, sem uma política sequer de reposição da inflação. Para ele, além de aprovar as MPs com os reajustes, o Congresso deveria aprovar um mecanismo que recomponha, ano a ano, os salários do Executivo:

- Considero 100% eleitoreiro e oportunismo do Lula. É triste ver o governo Lula, que tratou tão mal os servidores durante os três anos de governo, vir agora tapar buraco para não perder o apoio desta base que sempre apoiou o partido - disse Maia.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Junior (BA), disse que o governo Lula só se preocupa com sua própria reeleição e toma decisões com base em pesquisas. Segundo o tucano, o PSDB vai avaliar as MPs para checar o impacto nas contas do governo.

- Está claro que o servidor público ficou decepcionado com as promessas mirabolantes, não cumpridas. Agora querem fazer um saco de bondades para não perder os votos deste público cativo. Temos que saber o impacto desta decisão e ver se são mesmo aumentos efetivos, ou seja, se são justos ou se é apenas mais uma farsa do governo Lula - disse Jutahy Junior.

- É uma tática para comprar votos. Mas sou a favor do aumento, como sou favorável aos programas sociais - acrescentou o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS) reagiu às críticas e disse que o governo Lula está apenas cumprindo a promessa que fez de reestruturação do serviço público. Para o petista, a oposição apoiou a emenda da reeleição e criou um sistema em que o presidente toma decisões em ano eleitoral. Lula estaria fazendo o que Fernando Henrique já fez. Fontana nega que seja apenas um pacote de bondades às vésperas da eleição. Segundo ele, trata-se da continuidade de uma negociação que já vem sendo feita desde o início do governo.

- Se fôssemos dar um aumento de 50% logo no primeiro ano, a oposição nos acusaria de irresponsabilidade. O governo Lula tem uma política de recuperação do Estado, contrata mais concursados, melhora os salários, mas de forma responsável e respeitando as contas públicas - disse o petista.